segunda-feira, 23 de novembro de 2015

18 Quadrinhos Contundentes Para Entender Por que Colocar uma Criança em uma Escola Tradicional é um Desastre PARTE 2

9. A Escola de massas certifica por meio de testes padronizados.

São o equivalente do controle de qualidade nas indústrias.
Notas e exames padronizados não existem na vida e na Natureza.
São uma invenção perversa.
Por que perversa?
Vou citar dois motivos:
  1. Testes padronizados só fazem sentido para certificar a qualidade de produtos produzidos em massa. Eles identificam defeitos em cópias.
  2. No sistema escolar, a nota acaba ficando associada ao valor da pessoa.
Quem tira nota baixa é ‘reprovado’. Punido.
Chamam os pais para conversar. A criança sente-se mal consigo mesma, com vergonha. É recriminada em casa e na escola.
Não tem futuro.
Todo mundo acredita e vira uma profecia auto-realizadora.
Mas não tem como medir o valor de uma pessoa com notas e exames.
(É também na Escola de massas que toma fôlego a ideia bizarra de Meritocracia — que desconsidera retumbantemente as singularidades e as condições particulares de cada pessoa.)
Veja o quadrinho de novo.






10. O Mundo do Trabalho é uma extensão do Mundo da Escola.

Às vezes parece que foi Zeus quem determinou que temos de passar por longos anos de escola e depois o resto da vida em empregos medíocres.
Observar agoniados o tempo escorrendo pelo ralo em meio a tarefas e cobranças sem sentido.
Como se não houvesse alternativa.
Mas não. Basta estudar História.
A estratégia de educar seres humanos por meio de instrução em massa é uma invenção recente. Pela maior parte da história da humanidade, os seres humanos foram educados de outras maneiras.
E, portanto, há alternativas.
A ideia da escola de massas é produzir um amplo contingente de trabalhadores domesticados, sem crítica ou senso político.
Somos necessários para operar as máquinas nas indústrias — ou os computadores nas empresas — sem enchermos muito o saco.





11. Da palmatória à Ritalina.

Como criamos uma sociedade hipócrita?
Silenciando os impulsos naturais e saudáveis de todo ser humano.
Botando-os sentados em silêncio durante longas horas até que se acostumem a aceitar as palavras de uma autoridade externa.
A quem não se enquadra, a palmatória.
Quando a criança não se comporta do jeito que a escola espera, com frequência como protesto saudável a um sistema hostil, refratário a suas necessidades humanas, ela precisa ser silenciada. É intolerável que aponte as contradições do sistema.
A Ritalina é muito mais sofisticada — e brutal — que a palmatória. Funciona como uma mordaça química, da qual a criança não tem como fugir.
Uma traição covarde à confiança que a criança deposita nos adultos.
A medicação atua de dentro para fora, silenciosa e potente. Abafa os protestos e força a criança, quimicamente, a se enquadrar.
Medicar as crianças que não se encaixam atende perfeitamente aos anseios dos pais, professores e médicos (mas sobretudo da indústria farmacêutica).
Ou seja, não foram os pais, os professores ou a sociedade que falharam, por meio de um sistema obtuso e violento — a criança é que tem algum defeito biológico que a leva a se comportar daquele jeito.
Isso se chama ‘culpabilização da vítima’.





12. Como adestrar um cavalo?

A gente ‘quebra’ o ímpeto dele. Elimina o que nele há de selvagem.
É o que a gente também faz para adestrar seres humanos. Transformamos energia e vitalidade em sono, tédio e apatia.
Assim podemos montar neles e conduzi-los para onde quisermos.





13. Linhas, uniformes, grades curriculares.

A arquitetura da Escola Tradicional imita uma penitenciária.
Celas trancadas (salas de aula) e corredores.
Ambiente, rotinas e relações institucionalizadas. Um mundo à parte.
Não é socialização, de verdade. É um simulacro esquelético de socialização.
O recreio equivale ao banho de sol diário dos prisioneiros. Sempre curto demais e barulhento de energia acumulada.
Crianças saudáveis vivem a Escola como uma prisão.
Em nível sutil, é mais grave: a colonização do corpo e da subjetividade por programas disciplinares funciona como uma prisão invisível, que acompanha a pessoa aonde ela for.





14. A terceirização da infância

A gente quer trabalhar mais, para ganhar mais e poder comprar mais, não é?
Tem muuuita coisa legal pra comprar e usar atualmente. Lugares para conhecer, restaurantes, filmes e livros, games. Mídias sociais.
É bom para a empresa e para a economia do país.
Mas o que a gente faz com as crianças? Eles dão trabalho, exigem atenção.
A gente precisa tirar elas do meio.
É só mandar para a escola em tempo integral. Babá. Mais aulas de judô, natação, teatro, inglês, chinês, espanhol e informática. Ou larga na rua. Ou deixa na frente da televisão, de repente jogando o dia inteiro no tablet, celular ou computador.
Para muitas famílias, a escola vira um depósito de crianças. É conveniente.
O problema são as férias e finais de semana, quando os adultos precisam lidar com aqueles pentelhinhos que eles mal conhecem. E não fazem ideia de como tratar.
E as crianças intuem que estão sendo tratadas como estorvos.





15. Em poucas palavras, é isso mesmo, Dinho.

O Mercado precisa de mão de obra barata e consumidores ávidos.
E se alimenta de nossos sonhos e realizações.




“Eu espero que se tornem pessoas independentes, inovadoras e críticas que façam exatamente o que eu mandar!”

16. A Escola de massas não muda.

Ela é uma instituição guardiã do status quo.
Os discursos e as modas mudam.
Para agradar aos clientes.
Mas as práticas seguem rigorosamente as mesmas.
Os alunos respiram hipocrisia e contradições. E passam a achar que é normal.
Depois Alckmin recebe prêmio por gestão da água em São Paulo. Dilma adota o slogan de Pátria Educadora, aí faz um mega corte de verbas e coloca o Cid Gomes na direção do MEC.
E a gente aceita.





É, eu sei, este aqui não é um quadrinho. É só a foto de um livro.
Tudo bem, pausei a contagem.
Agora, para mim, não é um livro qualquer — é um livro que mudou a minha vida.
Isso faz 20 anos, mais ou menos.
Foi o tempo que levei da crítica à instituição-escola até conhecer a desescolarização.
Ler esse cara aí foi como a primeira vez que um míope usa óculos. Comecei a enxergar a educação formal com uma nitidez de perder o fôlego.
Ah, e ele é todo feito com quadrinhos e cartuns.
Como, por exemplo, os últimos dois desta série:



17. A Escola compartimentaliza o saber.

A gente vai de uma disciplina para outra como se fosse uma linha de montagem.
Eu sei, é uma manobra epistemológica que permite a especialização. No conjunto, o avanço do conhecimento é maior.
Mas o preço é alto.
Na formação da criança, a compartimentalização causa uma espécie de esquizofrenia na relação com o mundo. A criança substitui a experiência direta, una, da realidade por fórmulas e representações abstratas, organizadas em disciplinas que, com frequência, mal conversam entre si.




18. A Escola foca apenas em desenvolvimento intelectual.

Conteúdo e memorização.
O resto não dá para medir por meio de provas e exames, então deixa pra lá.
A gente faz de conta que não existe.
A consequência: nos tornamos seres mentais.
Cabeça grande, coração atrofiado.
Nosso intelecto funciona bem, mas somos extremamente desajeitados para lidar com afetos, emoções e relacionamentos, por exemplo.
Somos desajeitados para viver uma vida com sentido e significado.
Sofremos de baixa auto-estima, carência, solidão, excesso de auto-crítica, insegurança, angústia, ansiedade, inibições e oscilações de humor. Pânico e Depressão. Tornamo-nos dependentes de remédio, de sexo, de comida, de elogios, das mídias sociais ou do consumismo vazio.
Como diz Daniel Goleman, no livro Inteligência Emocional, a escola não forma para a vida; a escola só prepara o ser humano para a escola.
Em outras palavras, a gente estuda um cagalhão de coisas que, afinal, serão úteis para…
…fazer a prova.
Depois esquece tudo.
(como aquele cara daquela história grega que ficou condenado pela eternidade a empurrar uma pedra enorme até o topo da montanha e aí ela rolava de volta pra baixo de novo e de novo e de novo)
Esses dias, meses e anos — da infância ao começo da vida adulta — que passamos na escola, infernizados por programas, tarefas e avaliações, nas palavras de Tião Rocha, são como serviço militar obrigatório.
E, o mais grave: depois que passam, não voltam mais.
Um desperdício atroz do que temos de mais precioso.
A vida leve, despreocupada e apaixonante que podia ter sido.
E que não foi.


 fonte: https://medium.com/brasil/18-quadrinhos-contundentes-para-entender-por-que-colocar-uma-crian%C3%A7a-em-uma-escola-tradicional-%C3%A9-um-d66d182c3d77#.9qvwcn93h

 veja também...

 https://medium.com/@andrcamargo/h%C3%A1-algo-de-extraordin%C3%A1rio-acontecendo-no-mundo-e-isso-muda-completamente-o-jogo-na-educa%C3%A7%C3%A3o-2396d8f559a0#.x110n9yqd

continue lendo ››

ESPECIAL: Como já dizia Raul PARTE 2

Raul dos Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945, filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas. 

“Nasci baiano mesmo, na av. 7 de setembro, número 108, que é a avenida principal de Salvador. Hoje estão comendo bacalhau no quarto onde nasci.” brincaria Raul, mais tarde, referindo-se ao Restaurante Português, que funciona hoje, na casa em que nasceu.


"Quando eu era guri, lá na Bahia, música para mim era uma coisa secundária. O que me preocupava mesmo eram os problemas da vida e da morte, o problema do homem, de onde vim, para onde vou (...)"


A vasta biblioteca de seu pai era seu brinquedo favorito. E foi daí que veio o gosto pela palavra e a miopia precoce. Vivia trancado no quarto devorando o “Livro dos Porquês” do “Tesouro da Juventude”. Inventava histórias fantásticas que, transformadas em gibis, e com desenhos do próprio Raul, eram vendidos ao irmão caçula, Plininho (Plínio Santos Seixas, três anos mais novo). Melô era o personagem central de suas histórias, um cientista louco que viajava no tempo com figuras históricas, Deus e o Diabo.

"Eu estava muito preocupado com a filosofia sem o saber (isto é, eu não sabia que era filosofia aquilo que eu pensava). Tinha mania de pensar que eu era maluco e ninguém queria me dizer. Gostava de ficar sozinho. Pensando. Horas e horas. Meu mundo interior é, e sempre foi, muito rico e intenso. Por isso o mundo exterior naquela época não me interessava muito. Eu criava o meu.”
No ano de 1954, Raul ganhou seu primeiro violão, presente dos pais, ao qual, a princípio, ele não deu muita importância. Porém, pouco a pouco, foi dedilhando e, sozinho, aprendeu a tocar algumas músicas, acabando por se apaixonar pela novidade.


Filho da mesma região e geração que Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa entre tantos outros que definiram o movimento chamado Tropicália, Raul teve ao contrário destes em sua infância maior contato e assimilação do Rock and Roll em virtude de ser vizinho e amigo de filhos de famílias americanas que trabalhavam para o consulado americano na Bahia. 

“Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. Usava camisa vermelha, gola virada para cima. As mães não deixavam as filhinhas chegarem perto de mim porque eu era torto como o James Dean. Olhava de lado, com jeito de durão. Cada vez que eu cumprimentava uma pessoa dava três giros em torno do próprio corpo. Eu era o próprio rock. Eu era Elvis quando andava e penteava o topete. Eu era alvo de risos, gracinhas, claro. Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e agir que ninguém conhecia. Claro que eu não tinha consciência da mudança social que o rock implicava. Eu achava que os jovens iam dominar o mundo.”
Aluno relapso (repetiu várias vezes a segunda série ginasial) apesar de muito inteligente e leitor voraz, rapidamente se cansa da escola decidindo pela profissionalização como músico. 

"Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la."

Aos poucos a escola foi ficando de lado. O bom era ficar na loja Can-tinho da Música, curtindo rock and roll ou marcando ponto no Elvis Rock Club, fã-clube de Elvis Presley, fundado por Raulzito e o amigo Waldir Serrão. Corria o ano de 1962 e a necessidade de fazer rock levou Raul a fundar, ao lado dos irmãos Délcio e Thildo Gama, o grupo Os Relâmpagos do Rock. Chegaram a se apresentar na TV Itapoan, onde foram chamados de cantores de “música de cowboy”.



Tornou-se logo fã ardoroso de Elvis Presley, fundando aos 14 anos um fã-clube brasileiro do cantor (Elvis Rock Club). Engana-se porém quem pensa que Raul renegou a cultura brasileira adotando o rock and roll; odiava a bossa nova mas acrescentou ao seu rock elementos de música nordestina como o baião, xaxado, música brega.
"Sabem porque não gosto de bossa nova?! Porque não consigo tocar aqueles acordes dissonantes..."

Em 1962 em meio ao movimento bossa nova que explodia no Brasil, Raul monta sua primeira banda, Os Relâmpagos do Rock, que mais tarde teria seu nome mudado para The Panthers e finalmente Raulzito e os Panteras. Pela formação do grupo passaram entre outros além de Raul (vocal e guitarra), Thildo Gama, Perinho (guitarra), Mariano Lanat (baixo), Carleba (bateria). 



Em nome do namoro com a americana Edith Wisner, Raul resolve parar tudo e retomar os estudos e, em pouco tempo, prestar o vestibular (para passar num dos primeiros lugares) para a faculdade de Direito. 
“Eu queria provar às pessoas, à minha família, como era fácil isso de estudar, passar em exames. Como não tinha a mínima importância.” 

Tão sem importância que, em 1967, decide ao mesmo tempo casar com Edith e retomar a carreira com Os Panteras.

Gravam um compacto que seria distribuído para rádios com duas músicas (sendo uma versão de Elvis Presley). Apresentam-se em clubes e algumas vezes em rádio e TV. Começam a formar fama como expressão local do movimento Jovem Guarda da época (liderado por Roberto Carlos, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Wanderléa, etc, por sua vez versões brasileiras do sucesso dos Beatles).

Com o apoio de Jerry Adriani sai em turnê pelo Brasil com os Panteras (abrindo os shows do primeiro) e grava em 1968 o seu primeiro LP, auto em titulado  Não alcançando nenhuma repercussão a nível nacional. 

Atendendo a um pedido de Jerry Adriani, Raul, Edith e Os Panteras partiram em viagem para o Rio, realizando um velho sonho. Conseguiram gravar, para a Odeon, o LP Raulzito e Os Panteras. Lançado em 1968, o disco foi ignorado tanto pela crítica quanto pelo público.



“Chegamos em fim de safra. Não entendíamos o que estava acontecendo. Agnaldo Timóteo de um lado, Gil e Os Mutantes de outro. Tocávamos coisas complicadas, minhas letras falavam de agnosticismo, essas coisas, e complicamos demais. Não tínhamos ideia do que era comercial em matéria de música em português.”

Com o fracasso do disco, ficam algum tempo como banda de apoio de Jerry Adriani, até a dissolução do grupo. 

“Só sobrou eu. Os outros não aguentaram a barra e caíram fora”. 

Desiludido e psicologicamente abalado, Raul voltou para Salvador.

Sairia da Bahia novamente para tentar carreira de produtor na CBS onde produziria e comporia para Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Trio Ternura, Sérgio Sampaio, entre outros astros da época. 
O incentivo de Sérgio Sampaio levou Raul a produzir e lançar, em julho de 1971, aproveitando a viagem do presidente da CBS, o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista – apresenta – Sessão das 10, com participações do próprio Raul, com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada, Edy Star.

Isso lhe valeu a expulsão da CBS quando o presidente voltou. O disco então sumiu, “misteriosamente”, do mercado.

“Neste disco cada um cantava suas músicas em faixas separadas, num trabalho que resumia o caos da época. Valeu a pena, apesar de ter vendido muito pouco. Nós nos divertimos muito. Foi também a primeira vez que eu fiz algo para ser consumido e do qual me senti paranoicamente orgulhoso e feliz. Como os Beatles, que aprenderam no estúdio, eu aprendi tudo na CBS, os macetes todos. Aprendi a fazer música fácil, comercial, intuitiva e bonitinha, que leva direitinho o que a gente quer dizer.”


Em setembro de 1972, no VII Festival Internacional da Canção, à frente de um público ávido por novidades, Raul, mais uma vez incentivado pelo amigo Sérgio Sampaio, resolveu se tornar “popular”. Inscreveu no festival as canções “Eu sou eu, Nicuri é o Diabo”, defendida por Lena Rios e Os Lobos, e “Let me Sing, Let me Sing”, mistura de rock com baião, interpretada pelo próprio Raul, travestido de Elvis. Ambas foram classificadas.

A boa aceitação lhe valeu seu primeiro contrato com uma gravadora, a Philips Phonogram. Lançou um compacto de Let Me Sing Let Me Sing e o LP coletânea de covers 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (que nem mesmo traz o nome de Raul, sendo lançado sobre o nome de uma banda Rock Generation). O segundo compacto, Ouro de Tolo, foi o seu primeiro grande sucesso.

Em 1973 saiu o LP Krig-Ha Bandolo! apresentando as primeiras parcerias de Raul com o companheiro de estudos esotéricos Paulo Coelho. partiu para o primeiro álbum solo, KRIG-HA, BANDOLO! O título refere-se ao grito de guerra de Tarzan, que quer dizer: “cuidado, aí vem o inimigo”. É considerado pela crítica como um dos seus melhores trabalhos.

Começaram a formar em parceria o grupo Sociedade Alternativa, anarquista, baseado na doutrina de Aleister Crowley e também destinado a estudos esotéricos. 

Raul Seixas e Paulo Coelho lançam Sociedade Alternativa em agosto, e dedicam-se com afinco aos estudos esotéricos, mergulhando fundo na obra do mago inglês Aleister Crowley. 



Raul anunciava que era hora de mudar o mundo e distribuía nos shows um gibi/manifesto chamado “A Fundação de Krig-ha”, ilustrado por Adalgisa Rios (esposa de Paulo, na época). 

A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a lei única era “Fazer o que tu queres, há de ser tudo da lei.” 

A ideia da Sociedade Alternativa não agradou a muitos e Raul foi preso e torturado pelo DOPS, tendo que deixar o país.
Raul, Paulo, Edith e Adalgisa decidiram partir para os Estados Unidos, onde fizeram contato com algumas personalidades. Raul viria a conhecer durante o exílio alguns de seus ídolos, Elvis Presley, John Lennon e Jerry Lee Lewis.

"Quando me encontrei com Lennon nos EUA, conversamos muito sobre figuras históricas do mundo. Num momento da conversa, ele me perguntou: 'E no Brasil? Quem é o tal?' Fiquei nervoso e falei a primeira coisa que me veio na cabeça: 'Café Filho!'. Ele então: 'What?!' e eu 'Nothing, forget about it..."

Enquanto isso aqui no Brasil, a música “Gita” tocava de norte a sul do país. E foi graças a esse sucesso que Raul e Cia. voltaram para o Brasil. 
Foi nessa época que o casamento de Raul com Edith foi chegando ao fim, e ela decidiu voltar para os Estados Unidos, levando consigo a filha do casal.


O sucesso de Gita deu a Raul Seixas o primeiro Disco de Ouro, com mais de 600 mil cópias vendidas. O mesmo não aconteceu com o disco seguinte: Novo Aeon (1975, Philips), que vendeu apenas 60 mil. 
“Foi a maior decepção, mas dei a volta por cima com Há 10 Mil Anos Atrás.”

Raul conheceu, então, outra americana, Glória Vaquer (“Spacey Glow”), irmã de seu guitarrista Gay Vaquer. Casou-se com Glória e, desta união, nasceu, no Rio de Janeiro, a segunda filha de Raul, Scarlet, em junho de 1976. Nesse ano lançou o álbum Há 10 Mil Anos Atrás, com Raul maquiado na capa como um “sábio ancião”. Chegou então ao fim a parceria com Paulo Coelho, embora continuassem amigos (ou inimigos íntimos).

Decidiu sair da Philips para outra gravadora, a recém-fundada WEA. Marcou esse período o rosto sem barba nem bigode (suas “marcas registradas”) e a relação com um novo parceiro (e antigo vizinho dos tempos do Rio), Cláudio Roberto. Juntos realizaram o LP "O Dia em que a Terra Parou", em 1977.





A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo “nível” dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título. Raul chegou a fazer alguns shows, mas sem muito sucesso, devido às críticas ao LP. Foi então que se separou de Glória, que, a exemplo de Edith, também voltou aos Estados Unidos com a filha Scarlet.

No início da década de 80 Raul Seixas começou a apresentar problemas de saúde em virtude de consumo exagerado de álcool. Não parou porém de lançar discos e projetos, Mata Virgem, Por Quem os Sinos Dobram, Abre-te Sésamo. Passou a sofrer de hepatite crônica em virtude da bebida e estava em um hiato de contratos e shows.

Após a queda de vendagens nos últimos discos e um longo boicote de gravadoras, estourou novamente em 1978 com a música Carimbador Maluco do LP Raul Seixas, parte do especial infantil Plunct Plact Zumm da Rede Globo. 


Seguiram-se os discos Metrô Linha 743, Uah Bap Lu Bap La Bein Bum (com o que seria seu último grande hit, Cowboy Fora da Lei) e A Pedra do Gênesis (que deveria ser apenas parte de um projeto maior chamado Opus 666 que não chegou a ser lançado).

Em 1988 Raul passou a compor, gravar e excursionar com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus (então em fase de extinção).

O penúltimo casamento de Raul foi-se rompendo. A sua saúde também não andava boa. Mais uma vez ele decidiu voltar para Salvador, como fizera em 1978, para se recuperar-se. Depois de curta permanência em Salvador, voltou para São Paulo com nova companheira, Lena Coutinho.


Em São Paulo, junto com Lena, procurou uma nova gravadora, mas as portas do mundo artístico pareciam estar fechadas novamente para Raul. Enquanto isso, milhares de fãs e amigos permaneceram na expectativa de novidades. 

Em São Paulo, no ano de 1985, o Raul Rock Club (o Fã-Clube Oficial) lança o álbum Let me Sing my Rock and Roll, o primeiro disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube brasileiro, disputado hoje a peso de ouro por fãs e colecionadores.

Durante o ano de 1986, Raul e Lena continuaram à procura de uma gravadora e, finalmente, com a ajuda de amigos assinaram contrato para dois álbuns com a Copacabana. Porém, os problemas com a saúde atrapalharam as sessões de gravação no estúdio e o LP, que todos esperavam para esse ano, acabou sendo lançado só no início de 1987. O disco trazia como título o grito de guerra de rock and roll: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!


O disco tocou de norte a sul do país e mais uma vez, Raul Seixas era notícia, ocupando lugares de destaque na mídia e, o melhor, sua música estava na boca do povo. Contudo, continuava desaparecido dos palcos e da TV devido à sua saúde precária (em parte culpa do problema do abuso de bebidas alcoólicas)

Em 21 de Agosto de 1989, apenas dois dias após o lançamento de "A Panela do Diabo", Raul Seixas morre de um ataque cardíaco em virtude de problemas causados pela bebida. Curiosamente após a sua morte tem o seu talento mais reconhecido do que nunca, arregimentando a cada dia mais seguidores, sendo lançados postumamente registros inéditos e coletâneas, todos sucessos de vendas.

Em sua carreira foi pioneiro na mistura de todo tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado com desenvoltura e sem preconceitos ritmos nordestinos (Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor), folk ao estilo Bob Dylan (Ouro de Tolo), música brega (Sessão das 10), umbanda (Mosca na Sopa). 

Em suas letras abordava com igual desenvoltura temas tão díspares quanto sentimentos humanos, críticas ao sistema, esoterismo e agnosticismo. A sua mensagem muitas vezes está implícita em letras que podem ser taxadas de bobas pelos menos perspicazes (vide a letra de Carimbador Maluco) e em outros momentos é pura poesia (como em Canção Para Minha Morte).

Passados tantos anos de sua grande viagem, Raul Seixas continua mais vivo do que nunca. Desde seu falecimento em 21 de agosto de 1989, o número de pessoas interessadas em sua vida e obra vem aumentando consideravelmente. Pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais se organizam nos inúmeros fãs-clubes criados para homenageá-lo. Casas culturais, praças, ruas, parques e viadutos recebem seu nome.

Revistas, pôsteres e cerca de 20 livros enfocando sua vida e obra continuam no mercado. Todos os títulos de sua imensa discografia já foram reeditados em CD, e novos títulos são lançados constantemente. Programas de rádio e TV, romarias ao Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, passeatas, carreatas e inúmeros eventos acontecem anualmente em todo o Brasil nas datas de nascimento e morte, 28 de junho e 21 de agosto, respectivamente.



Um maluco beleza que 24 anos após a sua morte continua arregimentando fãs e seguidores. Raul era, antes de tudo, um sonhador com os pés no chão, um maluco beleza com raciocínio extremado, um homem a frente de seu tempo, às vezes imcompreendido... muitas vezes amado. 
Raul chocava, contradizia, reclamava e fazia rir com tamanho escárnio que a própria ditadura demorou a notá-lo. Era só mais um maluco, pensavam. Mas se tem uma coisa que Raul Seixas não era, era maluco. Maluco só se for no sentido poético. 
O inconformismo de Raul está presente nas sua vasta e rica obra, um marco da música brasileira. Sim, porque Raul não era só um roqueiro, era um músico popular brasileiro que permeou seu rock com os mais variados ritmos brasileiros. Suas letras abordavam com propriedade temas tão diversos quanto paixão, crítica, esoterismo e agnosticismo. A sua música ia desde a música brega passando pelo baião até a canção americana. Raul foi o grande artista -talvez o maior- do artesanato musical brasileiro.




continue lendo ››

sábado, 21 de novembro de 2015

18 Quadrinhos Contundentes Para Entender Por que Colocar uma Criança em uma Escola Tradicional é um Desastre PARTE 1

1. A Escola como a conhecemos é uma estratégia de instrução em massa.

A ideia é otimizar a produção e reduzir os custos.
Apenas um funcionário para um bando de aluno.
Funciona bem para produzir clipes de papel ou automóveis. Mas seres humanos não são clipes de papel nem automóveis.
Tratar pessoas como coisas já é, em si, uma forma de violência.
Não tem como fazer bem para a vida emocional de uma criança novinha, em formação, ser inserida em um sistema que, para funcionar, supõe que ela não é diferente de um objeto.
A criança vira aluno. E alunos viram números.
A Escola lança as bases para vivermos em um mundo em que pessoas são tratadas como coisas, e coisas têm mais valor que pessoas.






2. A instrução em massa opera pela lógica da homogeneização.

Agrupamos crianças por idade, séries e classes.
Obrigamos as crianças a estudar os mesmos tópicos ao mesmo tempo, no mesmo ritmo. A fazer os mesmos exames e dar as mesmas respostas.
Depois de passarem pelo longo processo de escolarização, elas ficam treinadas para valorizar os iguais. E sentem medo e intolerância diante de quem é diferente.
O que também acontece em igrejas e quartéis, por exemplo.
E assim — por não aprendermos a conviver com o diferente — se produzem as variadas formas contemporâneas de violência, como o bullying, o racismo, a misoginia, a homofobia, a xenofobia, os Bolsonaros, Cunhas, Malafaias, Olavos e Felicianos.





3. Para crianças saudáveis, o confinamento e as rotinas escolares são uma violência.

O protesto é sinal de saúde. Todo organismo saudável rejeita espontaneamente o que não faz bem.
Quando um adulto desqualifica o protesto afirmando que isso tudo é necessário, que não tem jeito, o mundo é assim mesmo e coisas do gênero, não se trata de ponderação, mas de cinismo.
Ou de identificação com o agressor: O adulto adota o discurso de quem o violentou.
Ou de uma expressão de ódio deslocada para a criança: Eu passei por isso, agora você vai ter que passar também!
Mas a vida já carrega uma dose mais do que suficiente de sofrimento e exigências com que cada um de nós vai ter de aprender a lidar para amadurecer.
A gente não precisa do gigantesco arsenal adicional de cobranças e frustrações (perfeitamente evitáveis) que a Escola impõe.





4. A Escola pretende preparar o ser humano para a vida e o mundo.

Como?
Retirando a criança da vida e do mundo. (!)
Depositando ela em um ambiente artificial e estéril (a sala de aula).
Trancando a porta.
E tratando todo movimento da criança em direção à vida e ao mundo como desvio e distração — passíveis de punição.





5. Toda criança saudável chega ao mundo com um graaaande coração.

É só observar um ser de fraldas.
Amorosa, compassiva, criativa, espontânea, ousada, curiosa, arrojada, vibrante, íntegra, generosa, empreendedora, interessada, divertida, corajosa, cheia de energia.
Aí começa a conviver com adultos escolarizados. E a frequentar a escola. E a ser bombardeada com mensagens publicitárias, que insistem que ela não é boa o suficiente. Que ela precisa de mais, mais, mais.
E o coração vai murchando, fica contraído, rígido, apertado. Doído.
Às vezes, até para de bater.





6. À Escola Tradicional só interessa uma quantidade limitada de talentos humanos.

É uma verdadeira tragédia.
Talentos e paixões massacrados pelo tribunal do Saber Formal — associado aos imperativos do Mercado.
Silenciados.
Seres com potenciais extraordinários atrofiados, convencidos de que não têm valor.
Auto-estima destruída. Geralmente, pelo resto da vida.





7. Pessoas escolarizadas vivem uma desconexão entre a realidade e ‘mapas’ da realidade.

E mal percebem a contradição.
Passam a vida se preparando por meio de livros, programas, manuais, cursos e instruções. Fazendo planos.
Habitam estreitos mundos mentais, enquanto a vida vibra — e passa — em algum outro lugar.
Não à toa. Foram treinadas desde cedo para terem medo da vida e se refugiarem nos pensamentos.





8. A Escola é uma máquina de ajustamento.

Esta ficou conhecida como a tirinha mais triste de todos os tempos.
Eu concordo.
Me contaram que não foi Bill Watterson quem a desenhou. Aparentemente, foi um fã.
A necessidade de ajustamento ao sistema é brutal.
Desvios não são tolerados.
A criança começa a ser medicada pelos adultos quando apresenta sintomas de… infância.
Construímos coletivamente um mundo cujo bom funcionamento transforma a infância em transtorno.



“Para uma seleção justa, todos deverão realizar o mesmo exame: por favor, subam naquela árvore.”
 
Clique aqui para ir direto para parte 2
continue lendo ››