quarta-feira, 27 de abril de 2016

(Parte 1) Magnífico, Versátil, e Extremamente competente...Jethro Tull



Resgatando um ótimo texto sobre uma das maiores bandas de todos os tempos, créditos para progshine

Em 1968, uma banda com uma formação um tanto inusitada para a época, pois trazia um flautista como frontman, lançou seu primeiro álbum. Hoje, há 48 anos, o Jethro Tull é um clássico, tendo influenciado incontáveis músicos pelo mundo, e ganhou a admiração e respeito de milhares de fãs.
Neste artigo falarei um pouco sobre essa banda e sua trajetória, é minha maneira de fazer uma homenagem a esses músicos (de todas as formações) e a essa banda única, em seu quadragésimo aniversário.
A história da banda começa antes de seu início, por assim dizer, já que vários dos músicos que vieram a fazer parte das suas diversas formações nos anos 70 já se conheciam e tocaram juntos em meados dos anos 60. Eram eles o próprio flautista Ian Anderson, o tecladista John Evan, o baterista Barriemore Barlow, e o baixista Jeffrey Hammond-Hammond. Eles tocaram juntos na banda The Blades e mais tarde na The John Evan Band. Quando essa última mudou de nome, e se trasformou em John Evan’s Smash, o baixista Glenn Cornick assumiu o lugar de Jeffrey.
Mas no início o Tull contava apenas com Ian Anderson como flautista e vocalista e com o baixista Glenn Cornick, aos quais se juntaram o baterista Clive Bunker e o guitarrista Mick Abrahams.


Com essa formação lançaram, em 68, o primeiro álbum da banda, chamado This Was (1968). Álbum esse que tende bastante para o blues, por influência principalmente do guitarrista Mick Abrahams. Mas o disco também tem algumas pitadas de jazz em sua composição, fato evidenciado pela faixa Serenade to a Cuckoo, que é uma música do jazzista Roland Kirk. Kirk foi um grande saxofonista de jazz (conhecido por tocar três tipos diferentes de saxofone ao mesmo tempo), mas ele também era flautista, e um dos primeiros a tocar a flauta e usar a voz ao mesmo tempo, técnica muita usada por Ian.
Essa formação não durou muito tempo. As diferenças musicais falaram mais alto e Mick deixou a banda. Durante pouco tempo Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, tocou com o Tull, fazendo apenas uma apresentação no The Rolling Stones Rock and Roll Circus, tocando a música Song for Jeffrey. O próximo guitarrista se transformaria num dos pilares do Jethro Tull, segundo integrante mais longevo da história da banda, Martin Barre.
Com essa nova formação foi lançado o álbum Stand Up (1969). Ainda que com influências do blues da fase anterior, o segundo álbum do Tull, com a saída de Mick, deixava Ian mais livre para tocar à sua maneira, e a entrada de Barre trouxe mais peso ao som. Assim foi produzido um dos álbuns com, talvez, o maior índice de clássicos por faixa da história da banda. Entre elas está a famosa adaptação jazzística do quinto movimento da Lute Suite in Em minor de J. S. Bach, chamada Bourée, e a faixa We Used To Know, onde Barre mostra a que veio, com um solo fantástico de guitarra.
Em 1970, John Evan, velho amigo de Ian se junta à banda, e participa, como tecladista, da gravação do Álbum Benefit (1970). Essa foi uma época maravilhosa, ouvir o Tull tocando ao vivo em 1970
é ouvir uma banda jovem fazendo um som forte e conciso, e Ian Anderson tocando flauta de uma maneira única, músicas como With You There to Help Me, Nothing is Easy e My God (que seria lançada no próximo disco) são executadas com muita energia e um som bastante pesado, sem contar a ousadia de Ian na flauta, como pode ser percebido no solo da supracitada My God.
Isso tudo pode ser ouvido em dois discos ao vivo dessa época, o primeiro foi lançado em 1993, na caixa comemorativa do aniversário de 25 anos da banda, e foi gravado no Carnegie Hall, em Nova York. O outro foi lançado em 2004, e se chama Nothing Is Easy: Live At Isle Of Wight (2004). Foi gravado, como o nome já diz, no famoso festival da Ilha de Wight, onde também tocaram The Who, The Doors, Jimi Hendrix, ELP e Miles Davis, entre muitos outros. Esse show também foi filmado e lançado em DVD junto com o CD, e é uma apresentação magnífica.
Em 1971 foi a vez de Glenn Cornick deixar a banda, e em seu lugar entrou outro amigo de Ian e John, citado no começo desse artigo, Jeffrey Hammond-Hammond. Jefrrey não era um músico profissional, e teve que treinar muito para tocar com o Tull, mas com certeza ele foi um dos membros mais carismáticos da banda, falava nos shows, lia o jornal/encarte do álbum Thick As A Brick (1972) na turnê de 1972, escreveu e narrava a história da lebre que perdeu os óculos em 1973, etc.
O disco seguinte, talvez o mais famoso deles, por conter a faixa mais conhecida do Tull, Aqualung (1971), tinha o mesmo nome dessa música e foi lançado em 1971. Nesse álbum as letras, escritas por Ian Anderson com a participação de sua primeira esposa Jennie Franks, contém fortes críticas à Igreja e à sociedade, como nas músicas My God, a faixa título e Hymn 43, todas com um som mais forte e intercaladas por músicas acústicas como Wond’ring Aloud, Cheap Day Return e Slipstream. Esse disco foi muito importante na carreira da banda, e talvez seja o grande responsável por faixas como Locomotive Breath estarem o tempo todo tocando em rádios de Classic Rock.
Depois de Aqualung, O baterista Clive Bunker, que vinha com o Tull desde o inicío decide deixar a banda para se casar. Em seu lugar entra Barriemore Barlow, grande baterista que ficaria no Tull até 1980. Com essa formação são gravados os próximos 4 discos, a começar pelo grandioso Thick As A Brick (1972), de 1972. O TAAB, como é carinhosamente chamado pelos fãs, é um álbum conceitual que contém uma única música com duração de 43 minutos de 50 segundos, dividida em duas partes originalmente por causa dos dois lados do LP.

Nesse disco o Tull faz um rock progressivo da melhor qualidade, cheio de mudanças de ritmo, mas com constantes retomadas e reinterpretações do tema principal. Ele é tido até hoje como uma das obras primas máximas do estilo. A letra é um caso a parte, o poema foi escrito por Ian anderson, mas é creditado a um autor fictício, Gerald Bostock, que seria apenas um garoto. Aliás, não só a letra mas o encarte original dos LP’s era um caso a parte. Feito à semelhança de um jornal, cuja manchete é sobre o garoto autor da letra, e com muitas páginas e reportagens, todas vindas das cabeças de Ian, John e Jeffrey. Nos shows da turnê a música ficava num tamanho imenso, chegando a 80 minutos. Isso incluía grandes solos de flauta e bateria, além de uma parada onde Jeffrey lia algumas das notícias do jornal do encarte.
No mesmo ano também foi lançado o famoso álbum duplo Living In The Past (1972), que é uma coletânea de músicas dos álbuns anteriores, com algumas versões ao vivo, outras nunca lançadas e singles.
A Passion Play (1973), segue a mesma linha do TAAB, uma grande música dividida nos dois lados do LP, mas nesse caso há uma interrupção na música para uma história sobre uma lebre que perdeu seus óculos. “This is The Story Of The Hare Who Lost His Spectacles!”, é assim que John Evan anuncia com irreverência a história narrada por Jefrrey Hammond-Hammond.
O restante do disco é muito bom, Ian toca sax reto em várias partes, e a banda toda está em sintonia e impecável. Há algum tempo foi lançada uma versão do disco com as faixas separadas, resultando em 16 faixas que podem ser ouvidas separadamente, mas juntas formam o disco. Isso nos mostra como esse disco é diversificado, com passagens muito diferentes, mas mesmo assim interligadas.
Não foi um álbum bem criticado, e mesmo entre os fãs não é muito lembrado. Pra mim ele é um dos mais esquecidos, e injustamente, da discografia do Tull e em maior escala do rock progressivo.
War Child (1974) foi o ábum de 1974, e originalmente deveria ter sido um filme. O projeto não foi em frente, mas o disco saiu. E é um bom disco do Tull, contendo a acústica, bela e clássica faixa Skating Away On The Thin Ice Of The New Day, a irreverente Bungle in the Jungle, e a animada The Third Horrah. Que fã do Tull nunca gritou Horrah no começo dessa música? Todas as outras músicas desse álbum são muito boas, com destaque para a faixa título e Ladies.
War Child e o álbum de 1975, Minstrel In The Gallery (1975), estão classificados no site da banda ( http://www.j-tull.com ) como “Elizabethan / Medieval / Classical”. Uma classificação interessante, e boa, sobretudo para o Minstrel In The Gallery. A capa do álbum mostra uma festa medieval com um grupo de menestréis tocando ao fundo. A faixa título começa acústica e com Ian cantando para depois ganhar peso com a guitarra de Barre numa grande passagem instrumental muito prog, e por último ir para uma parte mais rápida, onde Ian canta novamente.
Uma belíssima música, em um álbum que trás várias pérolas, como Cold Wind To Valhalla, Requiem e One White Duck / 0^10 = Nothing At All, as três com belíssimos arranjos de cordas, fazem com que a o ouvinte se sinta realmente ouvindo um grupo de menestréis na Inglaterra Medieval. Destaque também para Baker St. Muse, faixa com mais de 16 minutos de progressividade, com um bem trabalhado equilíbrio entre as partes acústicas e elétricas.
Infelizmente, essa época de 1971 a 1975 é a que tem menos registros ao vivo da história do Tull, e os existentes tiveram que esperar até as caixas comemorativas de 20 e 25 anos para serem lançados, junto com algumas outras raridades. Uma das coisas mais importante saiu no disco 2 da caixa de 20 anos, o The Chateau D’ Isaster Tapes, faixa de 11 minutos, que foi gravada com a intenção de ser o álbum que viria depois de Thick as a Brick, mas que acabou sendo retrabalhada e se transformou no A Passion Play. Aliás, segundo o próprio Ian em uma entrevista à uma rádio inglesa, a intenção original era fazer um álbum duplo, que conteria o APP, o Disaster Tapes e mais várias outras faixas, que ficaram esquecidas até serem lançadas em 1993, no álbum Nightcap (1993). Várias dessas faixas passaram a integrar o AAP em algumas partes, e outras originaram músicas como Bungle in The Jungle, do álbum War Child.
Em matéria de vídeos é pior ainda, há um clipe de 75 com a banda tocando Minstrel in The Gallery, em que é possível ver o famoso baixo listrado de Jeffrey e interpretação genial da música por parte de todos. Além desse há um vídeo do Jeffrey contando a história da lebre que perdeu seus óculos.
Mas é claro que um fã persistente e procurando nos lugares certos pode encontrar vários bootlegs desses anos, em uma qualidade não muito boa, mas escutável, e alguns vídeos, a maioria de longe e gravados em Super 8, com qualidade bastante inferior. Mas eu ainda não acredito que não há nada oficial gravado dessa época, e fica a esperança de um dia esse material ser lançado para a alegria dos fãs.
Após o Minstrel, Jefrrey Hammond-Hammond aposenta seu baixo e volta a fazer algo que sempre gostou, pintura, que pratica até hoje. Em seu lugar entra o grande baixista John Glascock, que, entre outras, tocou na banda Carmen, que misturava flamenco com rock progressivo. O álbum gravado com essa formação se chama Too Old to Rock ‘n’ Roll: Too Young to Die! (1976), um disco um pouco diferente do resto da produção do Tull, alegre e descontraído, tem músicas muito boas, como a faixa título, Crazed Institution, Taxi Grab, From A Deadbeat To An Old Greaser (com direito a solo de sax de David Palmer) e Salamander, uma bela peça acústica que lembra, em alguns momento, a Cold Wind to Valhalla, do álbum anterior.
Dessa época existem dois vídeos muito interessantes: um especial para uma TV britânica, onde eles interpretam o álbum inteiro, faixa a faixa, e de uma maneira muito irreverente, com Ian vestido como mulher e Barrie Barlow se maquiando em Crazed Intitution, por exemplo. O outro é um show em Tampa, na Flórida, com uma hora de duração (ao que parece é só a primeira parte, a segunda é desconhecida), gravado com muitos closes no Ian, e imagens mais amplas do palco principalmente nas partes instrumentais. É um show memorável, com a banda toda mandando muito bem, com solo de flauta virtuoso, passagem instrumental belíssima na parte inicial do show e finalização com a nona sinfonia de Beethoven! O solo de flauta é no meio de um grande Medley, que era tocado em 75 e 76, e que tinha faixas mais antigas, como A New Day Yesterday, To Cry You A Song, etc.
Nessa época o Tull começou a ter mais contato com o folk. Glascock vinha do Carmen, uma banda folk, e a vocalista dela, Angella Allen, fez backing vocals no disco. Maddy Prior, uma cantora folk inglesa também faz backing vocals nesse álbum, e em 78 teve seu primeiro disco produzido pelo Ian e todos os membros do Tull tocaram nele, em uma ou outra faixa. Com tudo isso, em 1977 a banda decidiu fazer alguma mais voltada pro folk, daí saíram três grandes álbuns, conhecidos como a trilogia de álbuns folk.
Para começar esses trabalhos a banda ganhou o reforço oficial de um novo membro, David Palmer. Disse reforço oficial, pois na verdade David Palmer (que recentemente trocou de sexo e agora atende por Dee Palmer) foi arranjador do Tull desde os primeiros álbuns e, no meu modo de ver as coisas, ele é um dos grandes responsáveis pelos discos da chamada fase de ouro, de fora dos palcos e depois dentro deles também.

Com essa formação é lançado o disco Songs From The Wood (1977), uma das obras primas do Tull, com um som muito denso e coeso, como pode ser ouvido logo de cara na faixa título, arranjos muito bem feitos e execução impecável do novo membro David Palmer e dos outros músicos. Contém clássicos como Jack-In-The-Green e The Whistler, onde Ian toca de maneira sensacional uma flauta Thin Whistle, além de faixas que soam muito folk mas também tem um “quê” de música medival, como Hunting Girl e Velvet Green, que começa com um cravo.
Um álbum memorável de uma época única, que foi imortalizada também em vídeo, num especial gravado no mesmo ano para a BBC de Londres, talvez um dos melhores registros do Tull ao vivo, e infelizmente ainda não lançado oficialmente também.
No ano seguinte é a vez do álbum Heavy Horses (1978), que segue com o mesmo estilo do Songs From The Wood, com faixas como One Brown Mouse, com sua letra singela, a bela Wathercock onde o cantor conversa com um galinho do tempo, daqueles que mudam de cor quando vai chover. Mas nem só de músicas acústicas é feito esse álbum, a faixa título é mais pesada, com forte presença da guitarra de Barre, que em certo ponto parece cantar junto com a voz do Ian. No Lullaby é outra faixa marcante do álbum.
Nesse ano também é lançado o álbum ao vivo mais famoso do Tull, o duplo Live – Bursting Out! (1978). Esse álbum é feito de faixas de diferentes apresentações da turnê européia de 1978, e nos mostra uma banda no auge da boa forma, tocando de maneira incrível seus maiores sucessos, músicas dos novos álbuns e algumas instrumentais como Conundrum e Quatrain, que eram tocadas ao vivo correntemente. Desse mesmo ano data um show no Madison Square Garden, em Nova York, que foi televisionado por uma emissora italiana. Um grande show, em que faz falta a figura de John Glascock. John se encontrava doente, assim Tony Williams, um velho conhecido de alguns membros da banda, assumiu o posto de baixista durante alguns shows, e desempenhou bem esse papel.
Para fechar a trilogia folk, em 1979 foi lançado o álbum Stormwatch (1979). Apesar de ser considerado um dos álbuns folk, o som dele difere um pouco dos seus dois antecessores. É um álbum um pouco mais obscuro, com uma certa dose de melancolia. Contém músicas maravilhosas, como North Sea Oil, Orion e Dun Ringill, além da belíssima Home e da maravilhosa peça chamada Elegy, uma das poucas em que John Glascock tocou. Essas duas músicas são umas das mais emotivas do Tull. Mas a grande música do disco é Dark Ages, ela começa devagar, com uma letra bastante pessimista, e depois vai aumentando aos poucos até ganhar volume e ficar mais rápida. Com maravilhosas passagens instrumentais, é uma das músicas progressivas mais fortes e belas da banda. Há um vídeo dessa época de um documentário da BBC chamado Lively Arts (com o Glascock tocando junto) das músicas Sweet Drams e Dark Ages, é fantástico ver a banda no palco e ao mesmo tempo é triste pensar no que viria a seguir, pois em 79 também aconteceu algo triste na história do Tull. John Glascock se encontrava internado por problemas cardíacos e a maioria das partes de baixo do Stormwatch foram tocadas pelo próprio Ian. A turnê do álbum começou com um baixista substituto, Dave Pegg, que tocaria por muito tempo na banda. No meio da turnê John Glascock morreu. Era o começo do fim da chamada Era de Ouro do Jethro Tull.
No final da turnê, Barriemore, muito abalado com a morte de John, já que eram bons amigos, e também, dizem alguns, motivado pelas diferenças musicais com Ian, que queria que as músicas fossem tocadas ao vivo iguais às versões de estúdio e não era muito receptivo à sugestões de mudança nos arranjos, deixou a banda. Nesse período Ian estava gravando o que deveria ser seu primeiro disco solo, e para esse projeto convidou o músico Eddie Jobson, grande tecladista e violinista, que já havia tocado com Curved Air, Frank Zappa e UK, entre outros, convidou também o baixista Dave Pegg, o baterista Mark Craney e o guitarrista do Tull, Martin Barre. O disco ficou pronto e ganhou o nome de A (1980) (A de Anderson), mas a gravadora gostou muito do material e acabou divulgando-o como o novo álbum do Tull, e assim ele foi lançado. Com isso, David Palmer e John Evan deixam a banda, que começa a fazer shows com a nova formação.

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