1. A Escola como a conhecemos é uma estratégia de instrução em massa.
A ideia é otimizar a produção e reduzir os custos.
Apenas um funcionário para um bando de aluno.
Funciona bem para produzir clipes de papel ou automóveis. Mas seres humanos não são clipes de papel nem automóveis.
Tratar pessoas como coisas já é, em si, uma forma de violência.
Não
tem como fazer bem para a vida emocional de uma criança novinha, em
formação, ser inserida em um sistema que, para funcionar, supõe que ela
não é diferente de um objeto.
A criança vira aluno. E alunos viram números.
A Escola lança as bases para vivermos em um mundo em que pessoas são tratadas como coisas, e coisas têm mais valor que pessoas.
2. A instrução em massa opera pela lógica da homogeneização.
Agrupamos crianças por idade, séries e classes.
Obrigamos
as crianças a estudar os mesmos tópicos ao mesmo tempo, no mesmo ritmo.
A fazer os mesmos exames e dar as mesmas respostas.
Depois
de passarem pelo longo processo de escolarização, elas ficam treinadas
para valorizar os iguais. E sentem medo e intolerância diante de quem é
diferente.
O que também acontece em igrejas e quartéis, por exemplo.
E
assim — por não aprendermos a conviver com o diferente — se produzem as
variadas formas contemporâneas de violência, como o bullying, o
racismo, a misoginia, a homofobia, a xenofobia, os Bolsonaros, Cunhas,
Malafaias, Olavos e Felicianos.
3. Para crianças saudáveis, o confinamento e as rotinas escolares são uma violência.
O protesto é sinal de saúde. Todo organismo saudável rejeita espontaneamente o que não faz bem.
Quando
um adulto desqualifica o protesto afirmando que isso tudo é necessário,
que não tem jeito, o mundo é assim mesmo e coisas do gênero, não se
trata de ponderação, mas de cinismo.
Ou de identificação com o agressor: O adulto adota o discurso de quem o violentou.
Ou de uma expressão de ódio deslocada para a criança: Eu passei por isso, agora você vai ter que passar também!
Mas
a vida já carrega uma dose mais do que suficiente de sofrimento e
exigências com que cada um de nós vai ter de aprender a lidar para
amadurecer.
A gente não precisa do gigantesco arsenal adicional de cobranças e frustrações (perfeitamente evitáveis) que a Escola impõe.
4. A Escola pretende preparar o ser humano para a vida e o mundo.
Como?
Retirando a criança da vida e do mundo. (!)
Depositando ela em um ambiente artificial e estéril (a sala de aula).
Trancando a porta.
E tratando todo movimento da criança em direção à vida e ao mundo como desvio e distração — passíveis de punição.
5. Toda criança saudável chega ao mundo com um graaaande coração.
É só observar um ser de fraldas.
Amorosa,
compassiva, criativa, espontânea, ousada, curiosa, arrojada, vibrante,
íntegra, generosa, empreendedora, interessada, divertida, corajosa,
cheia de energia.
Aí
começa a conviver com adultos escolarizados. E a frequentar a escola. E
a ser bombardeada com mensagens publicitárias, que insistem que ela não
é boa o suficiente. Que ela precisa de mais, mais, mais.
E o coração vai murchando, fica contraído, rígido, apertado. Doído.
Às vezes, até para de bater.
6. À Escola Tradicional só interessa uma quantidade limitada de talentos humanos.
É uma verdadeira tragédia.
Talentos e paixões massacrados pelo tribunal do Saber Formal — associado aos imperativos do Mercado.
Silenciados.
Seres com potenciais extraordinários atrofiados, convencidos de que não têm valor.
Auto-estima destruída. Geralmente, pelo resto da vida.
7. Pessoas escolarizadas vivem uma desconexão entre a realidade e ‘mapas’ da realidade.
E mal percebem a contradição.
Passam a vida se preparando por meio de livros, programas, manuais, cursos e instruções. Fazendo planos.
Habitam estreitos mundos mentais, enquanto a vida vibra — e passa — em algum outro lugar.
Não à toa. Foram treinadas desde cedo para terem medo da vida e se refugiarem nos pensamentos.
8. A Escola é uma máquina de ajustamento.
Esta ficou conhecida como a tirinha mais triste de todos os tempos.
Eu concordo.
Me contaram que não foi Bill Watterson quem a desenhou. Aparentemente, foi um fã.
A necessidade de ajustamento ao sistema é brutal.
Desvios não são tolerados.
A criança começa a ser medicada pelos adultos quando apresenta sintomas de… infância.
Construímos coletivamente um mundo cujo bom funcionamento transforma a infância em transtorno.
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