Conheça homens e mulheres que optaram por uma vida mais simples
Na contramão da sociedade contemporânea, homens e mulheres
optam por uma vida mais simples. Eles garantem que são mais felizes.
Conheça as histórias
Você pode ter passado a vida inteira, ou parte dela, ouvindo a expressão: tempo é dinheiro.
Conhecido de perto um universo em que ter do “bom e do melhor” é sinônimo de uma vida
sossegada. Também deve ter escutado, e acreditado, que comprar roupas, sapatos e supérfluos
alivia o estresse, principalmente, das mulheres durante a tensão pré-menstrual (TPM).
Que shopping é e será um dos melhores lazeres desta vida moderna.
Agora, suponha que tudo isso virasse de cabeça para baixo.
Em nome da simplicidade do ser, homens e mulheres, de idades diferentes,
chacoalharam esses velhos conceitos cada vez mais impostos à sociedade e optaram,
sem culpa e com leveza, por uma vida simples. Acreditam que precisam de pouco para
se satisfazer e asseguram que o lucro com tudo isso não se vende nem se troca,
e tem nome: felicidade.
Que shopping é e será um dos melhores lazeres desta vida moderna.
Agora, suponha que tudo isso virasse de cabeça para baixo.
Em nome da simplicidade do ser, homens e mulheres, de idades diferentes,
chacoalharam esses velhos conceitos cada vez mais impostos à sociedade e optaram,
sem culpa e com leveza, por uma vida simples. Acreditam que precisam de pouco para
se satisfazer e asseguram que o lucro com tudo isso não se vende nem se troca,
e tem nome: felicidade.
Não se trata de um movimento, mas um fenômeno sem causa única e nenhuma regra.
Essas pessoas estão, aos poucos, caminhando por conta própria em busca da simplicidade,
sem fazer publicidade disso. Alguns mudaram de cidade, outros conseguiram isso morando
em uma capital como Belo Horizonte. E não estão sós. A tal simplicidade já chama a atenção
do mundo, já que grandes homens, que poderiam esbanjar mordomias, disseram “não”
a elas e a tudo que elas remetem. O ex-guerrilheiro José Mujica, atual presidente do
Uruguai, por exemplo, mora em uma casa deteriorada na periferia de Montevidéu,
sem empregado nenhum. Seu aparato de segurança: dois policiais à paisana estacionados
em uma rua de terra.
Essas pessoas estão, aos poucos, caminhando por conta própria em busca da simplicidade,
sem fazer publicidade disso. Alguns mudaram de cidade, outros conseguiram isso morando
em uma capital como Belo Horizonte. E não estão sós. A tal simplicidade já chama a atenção
do mundo, já que grandes homens, que poderiam esbanjar mordomias, disseram “não”
a elas e a tudo que elas remetem. O ex-guerrilheiro José Mujica, atual presidente do
Uruguai, por exemplo, mora em uma casa deteriorada na periferia de Montevidéu,
sem empregado nenhum. Seu aparato de segurança: dois policiais à paisana estacionados
em uma rua de terra.
Outro que recebeu os olhares do planeta é o papa argentino Francisco, que despertou
a simpatia dos católicos e até mesmo de quem não segue a religião, por quebrar protocolos
da Igreja. Sabe-se que antes de chegar ao cargo mais alto da instituição, no dia 13,
quando foi escolhido como papa, ele andava de metrô e ônibus por Buenos Aires e
cozinhava a própria comida. Já como líder do catolicismo, ele dispensou o carro oficial
ao celebrar uma missa e caminhou pelas ruas, aproximando-se mais do povo.
a simpatia dos católicos e até mesmo de quem não segue a religião, por quebrar protocolos
da Igreja. Sabe-se que antes de chegar ao cargo mais alto da instituição, no dia 13,
quando foi escolhido como papa, ele andava de metrô e ônibus por Buenos Aires e
cozinhava a própria comida. Já como líder do catolicismo, ele dispensou o carro oficial
ao celebrar uma missa e caminhou pelas ruas, aproximando-se mais do povo.
BONS EXEMPLOS
Mas não é preciso ir a Roma ou ao Uruguai para conhecer pessoas que apostam nesse
modo de vida. O Bem Viver conheceu bons exemplos dessa vida simples. São guerreiros
que nadam contra a maré em uma sociedade que, cada vez mais, valoriza o supérfluo
como a garantia para ser feliz. “Hoje, o que predomina é o consumismo mais exacerbado,
mas se há grupos buscando essa simplicidade é um sintoma de que essa exaustão
das buscas frenéticas acaba não levando a lugar nenhum”, comenta o psicólogo,
psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Carlos Roberto Drawin.
modo de vida. O Bem Viver conheceu bons exemplos dessa vida simples. São guerreiros
que nadam contra a maré em uma sociedade que, cada vez mais, valoriza o supérfluo
como a garantia para ser feliz. “Hoje, o que predomina é o consumismo mais exacerbado,
mas se há grupos buscando essa simplicidade é um sintoma de que essa exaustão
das buscas frenéticas acaba não levando a lugar nenhum”, comenta o psicólogo,
psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Carlos Roberto Drawin.
Advogada Débora Paglioni, de 23 anos, acredita que ser simples é uma postura que tem a ver com bem-estar e consciência (Foto: Estado de Minas)
Certos de que há muito mais quando se tem menos, os entrevistados para esta reportagem servem como verdadeiras lições de vida. Maria Madalena Aguiar, de 66 anos, diz ser “feliz demais” em levar uma vida baseada na simplicidade e acredita, por exemplo, que está mais perto de Deus. Já Guilherme Moreira da Silva, de 56, mora em um sítio em Macacos, na Grande BH, e garante que “ser simples” traz a ele conforto, alegria, prazer e felicidade. A mesma sensação tem Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23, que ao optar por esse estilo de vida diz ter ampliado sua consciência, ficando mais inteira e presente na vida. “A simplicidade nos obriga a olhar para nós mesmos”, comenta o frei Jonas Nogueira da Costa, que desde menino se encantou pela vida de São Francisco de Assis e adotou a espiritualidade franciscana. Para a advogada Débora Paglioni, de 23 anos, ser simples vai muito além de ter dinheiro. “Tem a ver com bem-estar e consciência”, afirma.
SOMENTE O NECESSÁRIO
Carro, só ser for para locomoção. Telefone é para se comunicar, não precisa de touch screen nem aplicativos mirabolantes. Roupas ou sapatos novos somente quando forem de extrema necessidade, afinal, para quê mais? Comer bem não é ir a restaurante refinado, mas aquilo que é feito em casa. Ter uma vida simples passa por muitas dessas posturas, que não são regras.
Mas quem decide viver com o que é necessário nega o que hoje é tão valorizado,
como a corrida disparada pelos melhores celulares, casa, carros e as mais belas joias.
E acaba consciente de que o tempo e a energia investidos para a aquisição de coisas
podem minguar as oportunidades de conviver com o outro, de buscar a
espiritualidade, autoconhecimento e senso de comunidade. É como se essas pessoas
se abrissem mais para o mundo ao seu redor e dissessem: “Desapeguei”.
Talvez por isso, elas são serenas, sorridentes e leves, vivendo somente com o necessário,
aquilo que para elas é essencial.
como a corrida disparada pelos melhores celulares, casa, carros e as mais belas joias.
E acaba consciente de que o tempo e a energia investidos para a aquisição de coisas
podem minguar as oportunidades de conviver com o outro, de buscar a
espiritualidade, autoconhecimento e senso de comunidade. É como se essas pessoas
se abrissem mais para o mundo ao seu redor e dissessem: “Desapeguei”.
Talvez por isso, elas são serenas, sorridentes e leves, vivendo somente com o necessário,
aquilo que para elas é essencial.
conheceu hoje. O psicólogo, psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Drawin destaca que esse comportamento é
antigo e vem desde antes do cristianismo. “Vem de uma sabedoria grega. Não é só no sentido
De tanto desapegar desses bens, Guilherme Moreira da Silva, de 56 anos, é chamado de
Mazzaropi pelos amigos, em alusão ao cineasta, ator de rádio, TV, de circo, cantor e
diretor Amácio Mazzaropi, que, mesmo rico, foi conhecido como o gênio da simplicidade.
Ele marcou a história do cinema nacional ao mostrar personagens simples e uma
linguagem bem próxima do povo. Guilherme não optou pela arte. Desde menino, sofria
de bronquite e a medicina não lhe dava esperança de cura. Por meio de uma vida
que ele mesmo chama de alternativa, conseguiu se livrar da doença, desafiando até
o diagnóstico médico.
Mazzaropi pelos amigos, em alusão ao cineasta, ator de rádio, TV, de circo, cantor e
diretor Amácio Mazzaropi, que, mesmo rico, foi conhecido como o gênio da simplicidade.
Ele marcou a história do cinema nacional ao mostrar personagens simples e uma
linguagem bem próxima do povo. Guilherme não optou pela arte. Desde menino, sofria
de bronquite e a medicina não lhe dava esperança de cura. Por meio de uma vida
que ele mesmo chama de alternativa, conseguiu se livrar da doença, desafiando até
o diagnóstico médico.
Nascido e criado em Belo Horizonte, há 30 anos Guilherme se mudou para São Sebastião
das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, na Grande BH. Formado em
arquitetura e especializado em paisagismo, ele morou na Espanha por um ano.
Mas foi em Macacos, em um sítio em meio à natureza, que se encontrou. Por 15 anos,
morou ali sem energia elétrica. Ele diz até hoje não comprar roupas e só usar aquelas
que seus irmãos lhe dão. “Não atribuo grandes valores ao materialismo.
Tenho uma caminhonete porque preciso dela para trabalhar.”
das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, na Grande BH. Formado em
arquitetura e especializado em paisagismo, ele morou na Espanha por um ano.
Mas foi em Macacos, em um sítio em meio à natureza, que se encontrou. Por 15 anos,
morou ali sem energia elétrica. Ele diz até hoje não comprar roupas e só usar aquelas
que seus irmãos lhe dão. “Não atribuo grandes valores ao materialismo.
Tenho uma caminhonete porque preciso dela para trabalhar.”
Guilherme hoje mexe com produtos naturais, vende pães integrais e come tudo o que planta.
Onde mora não há internet. “A minha bronquite que me incomodava muito. Queria uma vida
saudável. Esse modelo que adotei tem raízes profundas em querer sobreviver e gostar da vida. Chegou o momento em que o mais importante era a qualidade do ar que respirava ,
o contato com a terra e a comida que comia.”
Onde mora não há internet. “A minha bronquite que me incomodava muito. Queria uma vida
saudável. Esse modelo que adotei tem raízes profundas em querer sobreviver e gostar da vida. Chegou o momento em que o mais importante era a qualidade do ar que respirava ,
o contato com a terra e a comida que comia.”
Em uma casa de alvenaria sem luxos nem precariedade, Guilherme tem uma televisão,
que de vez em quando é ligada. “A vida pode ser muito mais simples. A busca por ter tudo,
trocar o velho pelo novo, traz desconforto. A sociedade nunca está satisfeita.”
Para ele, a vida no campo traz essa simplicidade, alegria, conforto e prazer.
que de vez em quando é ligada. “A vida pode ser muito mais simples. A busca por ter tudo,
trocar o velho pelo novo, traz desconforto. A sociedade nunca está satisfeita.”
Para ele, a vida no campo traz essa simplicidade, alegria, conforto e prazer.
ESFORÇO
Professor do curso de ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas),
Ricardo Ferreira Ribeiro diz que hoje as pessoas fazem um esforço danado para ter renda e,
por outro lado, geram um estresse, acúmulo de trabalho e problemas de saúde.
“A opção pela vida simples tem sido mais singela, há menos requinte, mas exige menos
esforços.” Ele lembra que os hippies chegaram a optar por esse modo de vida,
como crítica ao consumismo. “Esse modo de viver aproxima mais as pessoas,
cria-se uma empatia.”
Ricardo Ferreira Ribeiro diz que hoje as pessoas fazem um esforço danado para ter renda e,
por outro lado, geram um estresse, acúmulo de trabalho e problemas de saúde.
“A opção pela vida simples tem sido mais singela, há menos requinte, mas exige menos
esforços.” Ele lembra que os hippies chegaram a optar por esse modo de vida,
como crítica ao consumismo. “Esse modo de viver aproxima mais as pessoas,
cria-se uma empatia.”
Para o frei Jonas Nogueira da Costa, de 37, viver com pouco se aprende ao estar perto
daqueles que têm poucas condições financeiras. De família simples e católica, ele sempre
participou das atividades da igreja de Três Rios, sua cidade natal, no interior do Rio de Janeiro,
o que despertou sua vontade de ser padre. Em 1995, entrou para a Ordem dos Frades
Menores, motivado pelo exemplo de São Francisco de Assis, que dedicou a vida à
simplicidade e aos pobres. “A proposta de simplicidade, de viver como irmão e ter uma vida
de oração são pilares que me encantaram”, diz. A simplicidade para Jonas é entendida
como partilha. “Você não pode chegar a Deus com títulos acadêmicos, roupas e outros.
Deus é simples.”
daqueles que têm poucas condições financeiras. De família simples e católica, ele sempre
participou das atividades da igreja de Três Rios, sua cidade natal, no interior do Rio de Janeiro,
o que despertou sua vontade de ser padre. Em 1995, entrou para a Ordem dos Frades
Menores, motivado pelo exemplo de São Francisco de Assis, que dedicou a vida à
simplicidade e aos pobres. “A proposta de simplicidade, de viver como irmão e ter uma vida
de oração são pilares que me encantaram”, diz. A simplicidade para Jonas é entendida
como partilha. “Você não pode chegar a Deus com títulos acadêmicos, roupas e outros.
Deus é simples.”
O frei conta que a principal mudança que sentiu na sua opção devida foi no conceito de
posse. “As coisas que eram da minha família pertenciam a eles e a mim. Hoje, tenho o
conceito do nosso.” Suas posses, segundo ele, são os livros. Não se importa com roupas e
compra só o necessário. “A simplicidade tem o campo prático e político. No primeiro,
é o contato com as pessoas mais simples e afetos com as plantas e animais.
No segundo, é a denúncia do consumismo que gera frustrações.”
posse. “As coisas que eram da minha família pertenciam a eles e a mim. Hoje, tenho o
conceito do nosso.” Suas posses, segundo ele, são os livros. Não se importa com roupas e
compra só o necessário. “A simplicidade tem o campo prático e político. No primeiro,
é o contato com as pessoas mais simples e afetos com as plantas e animais.
No segundo, é a denúncia do consumismo que gera frustrações.”
Ele ensina que a vida simples permite o contato consigo mesmo. “Nos obriga a olhar
para nós mesmos e ao nos depararmos com o ser humano que somos nos libertamos
das grandes tentações do consumismo.” O grande ganho para o frei é a felicidade
como comunhão, prazer nas pequenas coisas , estar bem consigo mesmo.
“Temos que fazer o que gostamos. A minha opção me faz bem, humano e feliz.”
para nós mesmos e ao nos depararmos com o ser humano que somos nos libertamos
das grandes tentações do consumismo.” O grande ganho para o frei é a felicidade
como comunhão, prazer nas pequenas coisas , estar bem consigo mesmo.
“Temos que fazer o que gostamos. A minha opção me faz bem, humano e feliz.”
Para o frei, quem segue a vida baseada na simplicidade, independentemente da religião, tem que aprender a escutar os pobres materialmente e socialmente. “Eles são os nossos mestres.
Há muita coisa que dissemos que são fundamentais para nós, e vemos que outras pessoas
conseguem viver sem aquilo. Às vezes temos tudo e não abrimos mão de nada, e esse pobre
consegue sorrir e falar de Deus. Por trás disso, há uma sabedoria. Não há uma receita pronta
para essa vida simples. Cada um tem que fazer a própria síntese”, aconselha.
Há muita coisa que dissemos que são fundamentais para nós, e vemos que outras pessoas
conseguem viver sem aquilo. Às vezes temos tudo e não abrimos mão de nada, e esse pobre
consegue sorrir e falar de Deus. Por trás disso, há uma sabedoria. Não há uma receita pronta
para essa vida simples. Cada um tem que fazer a própria síntese”, aconselha.
Estilo de vidas
Existe um movimento chamado simplicidade voluntária, que é um estilo de vida no qual
os indivíduos conscientemente escolhem minimizar a preocupação com o “quanto mais
melhor”, em termos de riqueza e consumo. Seus adeptos escolhem uma vida simples
por diferentes razões, que podem estar ligadas a espiritualidade, saúde, qualidade de vida
e do tempo passado com família e amigos, redução do estresse, preservação do meio
ambiente, justiça social ou anticonsumismo. Algumas pessoas agem conscientemente
para reduzir as suas necessidades de comprar serviços e bens, e, por extensão,
reduzir também a necessidade de vender o seu tempo. Alguns usarão as horas a mais
para ajudar os seus familiares ou a sociedade, ou sendo voluntário em alguma atividade.
os indivíduos conscientemente escolhem minimizar a preocupação com o “quanto mais
melhor”, em termos de riqueza e consumo. Seus adeptos escolhem uma vida simples
por diferentes razões, que podem estar ligadas a espiritualidade, saúde, qualidade de vida
e do tempo passado com família e amigos, redução do estresse, preservação do meio
ambiente, justiça social ou anticonsumismo. Algumas pessoas agem conscientemente
para reduzir as suas necessidades de comprar serviços e bens, e, por extensão,
reduzir também a necessidade de vender o seu tempo. Alguns usarão as horas a mais
para ajudar os seus familiares ou a sociedade, ou sendo voluntário em alguma atividade.
Compra consciente
Mudar os hábitos de consumo e só adquirir produtos de que realmente precisa é
uma opção de vida de quem busca ser mais saudável
uma opção de vida de quem busca ser mais saudável
Não é preciso sair da capital ou se dedicar integralmente ao sacerdócio para ter uma vida
simples. Essa opção de vida, apesar de a luta ser ainda maior, é bem possível na
cidade grande, mesmo com as tentações do consumo e seus exageros bem próximos.
A simplicidade, muitas vezes, está na essência da alma e em atitudes conscientes, e
não é preciso radicalismo para chegar até ela. O professor do curso de ciências sociais
da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Ricardo Ferreira Ribeiro diz que essa
opção de vida pode ser uma certa crítica aos valores ligados à ostentação e ao padrão
de vida de pessoas que não conseguem abrir mão dos bens materiais.
“A gente acaba consumindo muitas coisas, para quê? Qual a finalidade desse bem
que se adquire?”, provoca.
simples. Essa opção de vida, apesar de a luta ser ainda maior, é bem possível na
cidade grande, mesmo com as tentações do consumo e seus exageros bem próximos.
A simplicidade, muitas vezes, está na essência da alma e em atitudes conscientes, e
não é preciso radicalismo para chegar até ela. O professor do curso de ciências sociais
da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Ricardo Ferreira Ribeiro diz que essa
opção de vida pode ser uma certa crítica aos valores ligados à ostentação e ao padrão
de vida de pessoas que não conseguem abrir mão dos bens materiais.
“A gente acaba consumindo muitas coisas, para quê? Qual a finalidade desse bem
que se adquire?”, provoca.
Foram essas as perguntas que motivaram a psicóloga Marina Paula Silva Viana, de 28 anos,
a enfrentar um desafio: um ano sem compras. De junho de 2011 até junho de 2012,
ela não comprou nada de supérfluo e criou um blog na internet relatando sua experiência
durante esse período. A página levou o nome do desafio, Um Ano sem Compras.
Mineira de Belo Horizonte, a jovem mora desde 2008 em Curitiba e achava que a proposta
seria difícil. “O mais complicado é conter o primeiro impulso. Mas vi que isso é bem possível.”
O dinheiro que usava para comprar roupas, bolsas, calçados e cosméticos foi gasto em lazer. “Sempre gostei dessa opção de vida, e queria fazer essa experiência. Você percebe que tem outras
prioridades na vida. Passei a fazer mais programas ao ar livre, a aproveitar atividades
intelectualizadas. Quando estamos imersos no consumo, deixamos o que nos dá prazer
em segundo plano. Passada essa experiência, hoje compro bem menos e me foquei no
que é essencial para mim.”
a enfrentar um desafio: um ano sem compras. De junho de 2011 até junho de 2012,
ela não comprou nada de supérfluo e criou um blog na internet relatando sua experiência
durante esse período. A página levou o nome do desafio, Um Ano sem Compras.
Mineira de Belo Horizonte, a jovem mora desde 2008 em Curitiba e achava que a proposta
seria difícil. “O mais complicado é conter o primeiro impulso. Mas vi que isso é bem possível.”
O dinheiro que usava para comprar roupas, bolsas, calçados e cosméticos foi gasto em lazer. “Sempre gostei dessa opção de vida, e queria fazer essa experiência. Você percebe que tem outras
prioridades na vida. Passei a fazer mais programas ao ar livre, a aproveitar atividades
intelectualizadas. Quando estamos imersos no consumo, deixamos o que nos dá prazer
em segundo plano. Passada essa experiência, hoje compro bem menos e me foquei no
que é essencial para mim.”
Como psicóloga, Marina conta que muitos pacientes trazem para o consultório frustrações
vindas do consumo. “As pessoas estão consumindo mais. E isso acaba tendo uma função
psicológica. Ela acabam acreditando que a personalidade está ligada ao que consomem.”
Formada em teatro, produtora do curso de educação gaia em BH e estudante de letras na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23,
diz que a vida simples vem dos pilares que recebeu em casa e das suas buscas e
anseios. “São escolhas diárias. Encontrei em BH, no meio urbano, uma alternativa mais
simples para viver.”
vindas do consumo. “As pessoas estão consumindo mais. E isso acaba tendo uma função
psicológica. Ela acabam acreditando que a personalidade está ligada ao que consomem.”
Formada em teatro, produtora do curso de educação gaia em BH e estudante de letras na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23,
diz que a vida simples vem dos pilares que recebeu em casa e das suas buscas e
anseios. “São escolhas diárias. Encontrei em BH, no meio urbano, uma alternativa mais
simples para viver.”
Ela conta que o segredo dessa opção está na consciência do que se busca.
“Sabemos que ter um telefone é importante para atender a necessidade. Mas nem
sempre essa necessidade por um produto acompanha moda e o que está no mercado.”
Há 10 anos, a jovem não entra em shopping, pois, segundo ela, é um ambiente que
a incomoda, principalmente pelo objetivo daqueles que estão ali e os tipos de relações
estabelecidas. “Participo de um encontro anual de trocas de roupas. Para a minha
alimentação, participo de redes de agricultura urbana, que são alimentos produzidos
na cidade. Compramos diretamente dos produtores, sai mais barato e não acumula tanto
valores.”
“Sabemos que ter um telefone é importante para atender a necessidade. Mas nem
sempre essa necessidade por um produto acompanha moda e o que está no mercado.”
Há 10 anos, a jovem não entra em shopping, pois, segundo ela, é um ambiente que
a incomoda, principalmente pelo objetivo daqueles que estão ali e os tipos de relações
estabelecidas. “Participo de um encontro anual de trocas de roupas. Para a minha
alimentação, participo de redes de agricultura urbana, que são alimentos produzidos
na cidade. Compramos diretamente dos produtores, sai mais barato e não acumula tanto
valores.”
A maior preocupação de Priscila é com o meio ambiente. Ela procura ter atitudes
sustentáveis, como reciclagem de lixo, usar carona ou transporte público. “Essa opção de
vida me faz sentir em harmonia comigo mesma. Quando fiz essa escolha,
é como se tivesse responsabilidade com as pessoas ao meu redor.” Ela diz que
o encontro com esse modo de vida foi motivado por uma busca de vida saudável,
da saúde do corpo e da mente . “Nunca fiz escolhas motivada pelo financeiro.”
sustentáveis, como reciclagem de lixo, usar carona ou transporte público. “Essa opção de
vida me faz sentir em harmonia comigo mesma. Quando fiz essa escolha,
é como se tivesse responsabilidade com as pessoas ao meu redor.” Ela diz que
o encontro com esse modo de vida foi motivado por uma busca de vida saudável,
da saúde do corpo e da mente . “Nunca fiz escolhas motivada pelo financeiro.”
BENS MATERIAIS
Por mais que as quatro filhas insistam, Maria Madalena Aguiar, de 66 anos, fica bons anos
sem comprar roupas. Prefere consertar as que tem e não se importa com a idade delas.
Um vestido e um tamanco já estão de bom tamanho. Mesmo morando na capital, a essência,
adquirida na infância, na roça e durante os três anos que morou em um convento em
São Paulo, ela mantém intacta e com orgulho. Diz já ter conhecido muitas pessoas que
ostentam bens materiais. “É de dar dó”, comenta.
sem comprar roupas. Prefere consertar as que tem e não se importa com a idade delas.
Um vestido e um tamanco já estão de bom tamanho. Mesmo morando na capital, a essência,
adquirida na infância, na roça e durante os três anos que morou em um convento em
São Paulo, ela mantém intacta e com orgulho. Diz já ter conhecido muitas pessoas que
ostentam bens materiais. “É de dar dó”, comenta.
Certo dia, uma de suas filhas a chamou para sair. Ela logo pegou a bolsa de pano e disse
estar pronta para acompanhá-la. A filha sugeriu que mudasse de roupa. “Você quer o que
visto ou a minha companhia?”, respondeu Madalena. Apaixonada pelas poesias que cria,
ela conta que prefere andar de ônibus ou a pé a ir de carro. “Temos pernas é para andar.”
Compras com ela, só o essencial. O seu lazer é mexer na terra, com as plantas e aprender
com elas. “A vida simples é uma sabedoria”, avisa. Para ela, ajudar o outro a ter um coração
bom são as grandes riquezas do ser humano.
estar pronta para acompanhá-la. A filha sugeriu que mudasse de roupa. “Você quer o que
visto ou a minha companhia?”, respondeu Madalena. Apaixonada pelas poesias que cria,
ela conta que prefere andar de ônibus ou a pé a ir de carro. “Temos pernas é para andar.”
Compras com ela, só o essencial. O seu lazer é mexer na terra, com as plantas e aprender
com elas. “A vida simples é uma sabedoria”, avisa. Para ela, ajudar o outro a ter um coração
bom são as grandes riquezas do ser humano.
Madalena conta a lenda que lhe serve de inspiração. “Uma vez, um turista viajou para
conhecer um grande sábio. Quando chegou, disse a ele que queria conhecer seus móveis. O sábio, muito tranquilo, mostrou que só tinha uma cama e uma cadeira e o convidou a entrar.
O homem não aceitou, disse estar só de passagem. O sábio respondeu: ‘Eu também’.”
Para essa senhora, a história aponta o que devemos pensar antes dos bens materiais
serem nossos donos. “Caixão não tem gaveta. Estamos aqui só de passagem.” (LE)
conhecer um grande sábio. Quando chegou, disse a ele que queria conhecer seus móveis. O sábio, muito tranquilo, mostrou que só tinha uma cama e uma cadeira e o convidou a entrar.
O homem não aceitou, disse estar só de passagem. O sábio respondeu: ‘Eu também’.”
Para essa senhora, a história aponta o que devemos pensar antes dos bens materiais
serem nossos donos. “Caixão não tem gaveta. Estamos aqui só de passagem.” (LE)
Viver com o essencial
Este mês, o New York Times publicou um artigo sobre a vida de Graham Hill, que vive em
um estúdio de 420 pés. Ele tem seis camisas, 10 tigelas rasas que usa para saladas e pratos
principais. Não tem um único CD ou DVD. Era rico, tinha uma casa gigantesca
e cheia de coisas – eletrônicos , carros e eletrodomésticos. “De uma certa forma,
essas coisas acabaram me consumindo”, disse na entrevista. Em 1998, em Seattle,
vendeu sua empresa de consultoria de internet, Sitewerks, por muito dinheiro e passou a
comprar muito. Entre as compras, um Volvo preto turbinado. Mas tudo isso passou a
incomodá-lo e a ficar sem graça. E ele decidiu viver somente com o essencial.
um estúdio de 420 pés. Ele tem seis camisas, 10 tigelas rasas que usa para saladas e pratos
principais. Não tem um único CD ou DVD. Era rico, tinha uma casa gigantesca
e cheia de coisas – eletrônicos , carros e eletrodomésticos. “De uma certa forma,
essas coisas acabaram me consumindo”, disse na entrevista. Em 1998, em Seattle,
vendeu sua empresa de consultoria de internet, Sitewerks, por muito dinheiro e passou a
comprar muito. Entre as compras, um Volvo preto turbinado. Mas tudo isso passou a
incomodá-lo e a ficar sem graça. E ele decidiu viver somente com o essencial.
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