segunda-feira, 17 de março de 2025

Ghosted o que acontece quando vc se apaixona por uma espiã?

 Excelente pedida para um filme de ação e romance



Muito tem se discutido nos últimos tempos (não apenas dias e meses, mas anos) a respeito do papel feminino nos filmes (e histórias em geral, para ser mais exato) de aventura. Há muito deixou-se de olhar para elas apenas como “moças indefesas que precisam ser salvas”, uma mudança de postura que vem desde a animação Shrek (2001) – quem disse que Fiona precisava de ajuda para fugir do dragão? – até colocar uma mulher como a nova agente secreta com licença para matar em 007: Sem Tempo para Morrer (2021). Neste último, apesar de ser Lashana Lynch que assume a tarefa de substituir James Bond, é Ana de Armas, como uma bondgirl nada indefesa, que capitaliza grande parte das atenções em uma participação mínima, mas que gerou muitos comentários. Tanto é que ela volta ao gênero em Ghosted: Sem Respostas, mas não mais como coadjuvante (ou quase isso). Afinal, ainda que no filme de Dexter Fletcher o protagonista seja mais um vez um homem – no caso, Chris Evans – é ela a responsável pelo andar da trama e por, no final das contas, garantir a segurança dos envolvidos. Uma bem-vinda mudança de paradigma que, a despeito de qualquer outro mérito envolvido, é suficiente para despertar um interesse insuspeito em relação a esse título que, caso contrário, teria tudo para ser mais um dentre tantos genéricos similares.

Para quem não está familiarizado com o termo, “dar o ghosted em alguém” pode ser entendido como “dar um perdido”, ou seja, após um encontro no qual tudo se desenrolou de modo aparentemente normal, a pessoa não dar mais notícias a partir do dia seguinte, parando de responder mensagens e nem mais entrar em contato. Os motivos para tal postura podem ser os mais diversos, mas raros serão os que terão as mesmas desculpas de Sadie (Armas), que apesar de declarar ter aproveitado cada momento da noite que passou ao lado de Cole (Evans), não retornou nenhuma das tentativas dele em voltar a falar com ela. No entanto, por mais que para ele esse sumiço seja quase inexplicável, as razões dela são fáceis de serem compreendidas: Sadie é uma espiã do governo dos Estados Unidos em meio a uma operação altamente secreta pela Europa e Ásia, tentando desbaratar uma transação internacional que poderá liberar um novo vírus capaz de dizimar cidades inteiras. No entanto, como os dois tiveram apenas um encontro – que se estendeu por horas e terminou apenas na manhã seguinte – não houve tempo, ou mesmo confiança, para que esses detalhes fossem abordados. E sem saber como proceder, o rapaz decide ir ao encalço dela. Uma atitude que muitos veriam como a de um carente excessivo com potencial para perseguidor tóxico, mas que ele afirma ser apenas um gesto romântico inesperado.

Muito da graça que Ghosted: Sem Resposta evidentemente possui está na conta dos responsáveis por ilustrar tais desventuras. Fossem dois outros astros do momento, é provável que algo se perdesse. Isso porquê tanto Evans quanto Armas funcionam juntos de modo exemplar, mesmo que nem sempre como par – nos dois trabalhos anteriores deles, Entre Facas e Segredos (2019) e Agente Oculto (2022), apareceram como antagonistas – e o envolvimento que agora demonstram agrega uma nova camada de leitura a essa relacionamento. Também é notório a filmografia recente que ambos carregam. Ela acaba de vir de uma indicação ao Oscar – sua primeira – como Marilyn Monroe em Blonde (2022), dando vida a uma mulher que durante toda a sua existência foi vítima das situações em que se via envolta, bem o oposto do que lhe acontece dessa vez. Já ele, bom, está se falando de ninguém menos do que o rosto do Capitão América, um dos maiores super-heróis de todos os tempos, que troca de lado e se revela nas posições mais constrangedoras, não apenas uma, mas duas ou mais vezes tendo que ser resgatado da morte certa pela namorada que mal conhece. Um estranhamento divertido e apropriado aos tempos atuais.

Se Evans havia exercitado seus músculos cômicos em outras ocasiões e Armas mostrou em mais de uma oportunidade saber se defender tão bem – ou melhor – do que seus colegas barbudos, a surpresa, então, vem da condução leve e dinâmica de Fletcher, recém saído de dois musicais (não apenas salvou o resultado de Bohemian Rhapsody, 2018, ainda que não tenha sido creditado, como na sequência entregou o superior Rocketman, 2019). A versatilidade que explora dessa vez impressiona pela maneira segura que trata não apenas seus personagens, mas também os eventos com os quais estes se envolvem, indo desde sequências tradicionais, como a perseguição de carros (o ônibus desgovernado em pleno deserto é de deixar qualquer um sem piscar) como também na inversão de conceitos (é o homem que terá que servir de isca para o vilão, repetindo como um mantra um pedido de socorro para que ela venha livrá-lo do perigo na hora exata). Mas não apenas nesses momentos é que seu olhar fará diferença. Essa abordagem se manifesta desde o começo – a primeira meia-hora do filme é digna das comédias românticas mais triviais, sem antecipar nada do que virá depois – até no entorno, oferecendo coadjuvantes que, cada um ao seu modo, também não passarão desapercebidos (de Adrien Brody a entrega é segura como de costume, mas o que dizer das aparições de Anthony MackieJohn ChoSebastian Stan e até Ryan Reynolds?).

No entanto, mesmo com tanto em cena que poderia funcionar de forma reversa e, ao invés de colaborar, agir como distração, Ghosted: Sem Resposta evita tais armadilhas pela forma coesa como sua ação se desenrola, sem nunca perder de vista o desconforto que deu início a esse imbróglio: duas figuras inadequadas – ele, inseguro e deslocado, incapaz se mostrar tranquilo ao lado de uma futura pretendente (talvez a parte mais difícil de ser levada a sério, afinal, é Chris Evans que precisa tornar esse personagem convincente), e ela, uma máquina assassina e impiedosa, perspicaz o suficiente para derrubar impérios e exércitos, mas sem a menor habilidade para qualquer tipo de envolvimento amoroso – que, de um jeito ou de outro, acabarão funcionando juntos. Uma fórmula que, se não reinventa a cartilha, ao menos é executada com compromisso e criatividade, além de contar com uma troca de olhar que chega em ótima hora. Não vai transformar a vida de ninguém, é certo. Mas que garante duas horas de boa diversão, não há dúvidas. E, se além disso, ainda provoca uma reflexão (por menor que seja), a missão está mais do que cumprida.


critica por 

Robledo Milani

continue lendo ››

segunda-feira, 10 de março de 2025

10 livros com criticas socias profundas

 Existem muitos livros clássicos que oferecem críticas sociais profundas e perspicazes. Aqui estão alguns dos mais notáveis:




1. "1984" de George Orwell - Uma distopia que explora temas de totalitarismo, vigilância e controle social, refletindo sobre os perigos da opressão e da manipulação da verdade.

2. "A Revolução dos Bichos" de George Orwell - Uma fábula política que critica o totalitarismo e a corrupção do idealismo, usando animais em uma fazenda como metáfora para a Revolução Russa.

3. "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë - Embora seja uma história de amor, também aborda questões de classe, vingança e a natureza humana, refletindo sobre as divisões sociais da época.

4. "Os Miseráveis" de Victor Hugo - Uma obra monumental que examina a injustiça social, a pobreza e a redenção, mostrando as lutas dos marginalizados na sociedade francesa do século XIX.

5. "A Metamorfose" de Franz Kafka - Uma alegoria sobre alienação e a desumanização na sociedade moderna, onde o protagonista se transforma em um inseto, simbolizando a perda de identidade e a opressão social.

6. "O Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald - Uma crítica ao sonho americano e à superficialidade da sociedade da década de 1920, explorando temas de classe, riqueza e desilusão.

7. "A Moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo - Um dos primeiros romances brasileiros, que, além de contar uma história de amor, também aborda questões sociais e culturais do Brasil do século XIX.

8. "O Sol é Para Todos" de Harper Lee - Uma crítica poderosa ao racismo e à injustiça social no sul dos Estados Unidos, vista através dos olhos de uma criança.

9. "Crime e Castigo" de Fiódor Dostoiévski - Uma exploração profunda da moralidade, da culpa e da alienação, que também reflete sobre as desigualdades sociais na Rússia do século XIX.

10. "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera - Embora não seja tão antigo quanto os outros, este romance aborda questões de amor, política e a busca por significado em um mundo caótico.

Esses livros não apenas oferecem narrativas envolventes, mas também provocam reflexões sobre a sociedade, a moralidade e a condição humana, tornando-os clássicos atemporais.
continue lendo ››

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Mais arte por favor - Arte como forma de resistência a mediocridade

uma reflexão para o mundo pós BBB




 Ter entusiasmo pela vida é essencial para vivermos de forma plena e significativa. Esse entusiasmo nos impulsiona a buscar novas experiências, a nos conectar com os outros e a explorar nossas paixões. A arte, em suas diversas formas, desempenha um papel fundamental nesse processo. Ela nos permite expressar emoções, refletir sobre nossas vivências e encontrar beleza mesmo nas situações mais desafiadoras. Através da arte, podemos manter nossa sanidade, pois ela nos oferece um espaço para a criatividade e a introspecção, ajudando-nos a processar o mundo ao nosso redor.


Por outro lado, a grande mídia do entretenimento muitas vezes apresenta conteúdos que podem alienar as pessoas, promovendo uma cultura de mediocridade. Em vez de inspirar e elevar, muitos programas e filmes se concentram em fórmulas repetitivas e superficialidades, desviando a atenção do público de questões mais profundas e significativas. Isso pode levar a uma desconexão com o que realmente importa na vida, fazendo com que as pessoas se sintam satisfeitas com o trivial, em vez de buscar um propósito maior.

Portanto, é vital que cultivemos nosso entusiasmo pela vida e busquemos a arte como uma forma de resistência contra a mediocridade. Ao nos engajarmos com a criatividade e a expressão artística, podemos encontrar um caminho para uma vida mais rica e autêntica, desafiando as narrativas limitantes que muitas vezes nos são apresentadas.


É verdade que programas de entretenimento, como o Big Brother Brasil e outros realities com influenciadores, podem ter um impacto significativo na forma como a população consome informação e se engaja com questões culturais. Esses programas, muitas vezes, priorizam o entretenimento em detrimento de conteúdos que promovem o conhecimento e a reflexão crítica.

Um dos principais pontos a se considerar é que a popularidade desses formatos pode desviar a atenção do público de conteúdos mais educativos e enriquecedores. Quando a audiência se concentra em dramas pessoais e dinâmicas de grupo, há uma tendência a valorizar comportamentos e valores que podem não ser os mais construtivos. Isso pode levar a uma superficialização das discussões e a uma diminuição do interesse por temas mais complexos, como ciência, arte e política.

Além disso, a presença de influenciadores que, muitas vezes, não têm formação ou conhecimento aprofundado em áreas relevantes, pode contribuir para a disseminação de informações rasas ou até mesmo equivocadas. Isso pode criar um ciclo em que o público se torna cada vez mais dependente de conteúdos que não estimulam o pensamento crítico ou a busca por conhecimento.

Por outro lado, é importante reconhecer que o entretenimento também tem seu valor e pode ser uma forma de conectar as pessoas. No entanto, o desafio está em encontrar um equilíbrio entre o entretenimento e a promoção de uma cultura mais rica e diversificada. Incentivar a curiosidade e o pensamento crítico, mesmo em meio a formatos populares, pode ser uma maneira de mitigar os efeitos negativos e promover um nível intelectual mais elevado na população.
continue lendo ››

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A todos os amigos que lutam...eu os saúdo



Você já quis mudar uma situação? Já se sentiu preso em suas circunstâncias e para onde quer que você se vire parece não haver porta de saída? Você já sentiu como se suas costas estivessem contra a parede e não houvesse para onde correr?

Se você tem, eu o saúdo.

Uma das maneiras de amadurecer na vida é passando pelas coisas. Não podemos pular o processo completamente nem podemos exigir que ele mude. Muitas vezes na vida, a única saída é através . É uma coisa ótima e alegre começar coisas novas, mas pessoas maduras são aquelas que terminam bem. Não importa a dor. A distância. A confusão.

Dando um passo de cada vez, um dia de cada vez, você está superando sua situação.

Deus pode mudar sua situação? Sim.

Ele fará isso? Às vezes talvez. Mas muitas vezes não. Por que você pergunta?

Porque há coisas que Ele quer nos ensinar, e falhas de caráter que Ele quer remover de nós. O processo é a ferramenta que Deus usa para nos moldar nas pessoas que Ele nos criou para ser Portanto, precisamos ser pacientes com o processo. Mesmo que a estrada pareça longa e cansativa, não estamos caminhando pelo processo sozinhos, mas o próprio Jesus está conosco. Sua presença nos permite não desistir e continuar caminhando. E Sua graça será suficiente a cada passo do caminho.

Quando as circunstâncias da vida parecem permanecer inalteradas, não se preocupe e não desmaie. Há um trabalho maior sendo realizado dentro de você. Suas raízes estão se aprofundando, sua confiança está crescendo e seu coração está mudando.

Quando nos rendemos ao que é, pode até haver alegria no processo.



Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. Nem os Seus pensamentos são os nossos pensamentos. Ele é Soberano, portanto, tudo o que Ele faz é absoluto e perfeito. Mesmo que não possamos ver agora. Nada é uma surpresa para Deus.  Deus ama você e Ele é por você. Tudo o que você está passando e passará Ele tem o poder de transformar em bem.

Não é tanto sobre chegar ao outro lado. É mais sobre quem você se torna durante o processo.

Então ande com Deus. Um dia de cada vez. Ele vai te pegar pela mão e te guiar através de suas circunstâncias.

E então, depois de um tempo, você olhará para trás e verá que chegou ao outro lado.

Os passos de um homem bom são ordenados pelo Senhor, e Ele se deleita em seu caminho.

Salmos 37:23


continue lendo ››

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Receita de cheesecake cremoso irlandês Bailey's sem assar

 



Amantes de café e chocolate vão adorar esta receita de cheesecake cremoso irlandês Bailey's fácil de fazer e sem assar. Pode ser feito em potes pequenos ou em uma forma de torta para uma sobremesa fácil de St. Patrick's Day.

Na semana passada, fiz um creme irlandês keto que tem muito menos carboidratos do que o licor comum. Pensei por que não fazer um cheesecake de creme irlandês sem assar em potes, semelhante à minha receita de cheesecake assado de limão . Dessa forma, consegui administrar melhor o tamanho das porções.

Não há muito licor em cada porção. É apenas cerca de meia colher, o que é tão pouco que você mal consegue sentir o gosto do álcool. O sabor do creme irlandês está lá, com muito sabor de chocolate e um toque de café.

A receita é super simples e pode ser facilmente modificada caso você não tenha nenhum licor com sabor adequado à dieta cetogênica.

Ingredientes

Se você já fez outros cheesecakes sem assar, verá que os ingredientes desta receita de cream cheese irlandês da Bailey's são semelhantes.

Observação: a lista completa de ingredientes com as quantidades está disponível na receita de carboidratos abaixo.

Requeijão cremoso

Para um verdadeiro sabor de cheesecake, você precisa adicionar queijo cremoso de verdade. A gordura integral é recomendada para quem está em dieta cetogênica, mas você pode usar um queijo com menos gordura, desde que os carboidratos sejam 1g ou menos 

Creme de leite batido

O chantilly clareia a textura do recheio de cream cheese cru. Eu gosto de usar creme de leite fresco porque ele tem um teor de gordura maior. Você também pode usar creme de leite duplo, que tem ainda mais gordura.

Adoçantes

Você pode usar qualquer substituto de açúcar na receita. Basta dar uma olhada na calculadora de conversão de adoçantes para converter. Eu gosto de usar um adoçante granulado um para um para a crosta e o recheio e um pouco de adoçante em pó para a cobertura batida

Sabor creme irlandês

Você vai querer usar um creme irlandês caseiro feito sem açúcar. Você também pode usar um extrato de baunilha .Cacau em pó sem açúcar também é adicionado ao recheio e à crosta. Se você quiser realçar o sabor do café, pode adicionar um pouco de expresso instantâneo ou pó de café.

Manteiga

Tanto o recheio quanto a crosta adicionam manteiga para dar sabor e textura. A manteiga é o que une a crosta sem assar.

Farinha de Amêndoa

Você precisará de farinha de nozes ou sementes finamente moídas para a crosta. Eu gosto de usar farinha de amêndoa, mas farinha de avelã ou semente de gergelim também funcionam.

Gelatina

Para estabilizar o recheio e evitar que ele fique plano, um pouco de gelatina é adicionada. Se o cream cheese contiver um estabilizador como goma xantana , você pode deixar a gelatina de fora.

Instruções

A receita é muito fácil. Primeiro você prepara a crosta de chocolate com farinha de amêndoa e depois cobre com o recheio de cream cheese. É isso!

Preparar a crosta

Para fazer, basta misturar a farinha de amêndoa, o cacau, o adoçante e a manteiga derretida em uma tigela. Depois, pressione em pequenos potes de servir ou em uma forma de torta.

Faça o recheio

O recheio é uma mistura de cream cheese amolecido, manteiga, cacau, adoçante e aromatizantes. Para deixá-lo mais leve, você adiciona creme batido estabilizado. Isso o deixa arejado como uma mousse de cheesecake.

O recheio pode ser colocado com uma colher ou com um saco de confeitar em cima da crosta se estiver fazendo em potes. Caso contrário, você vai espalhá-lo sobre a crosta da torta com uma espátula de borracha.

Dicas rápidas

  • Resfrie o creme. Ao bater o creme, ele bate melhor se estiver gelado. Também ajuda bater em uma tigela gelada.
  • Use uma batedeira elétrica. Para um recheio leve e fofo, você vai querer usar uma batedeira elétrica de mão ou de pé. É muito mais fácil do que bater à mão e dá os melhores resultados.
  • Não bata demais o creme. O creme estará completamente batido quando você vir picos suaves se formando. Se você bater demais, pode acabar com manteiga.
  • Dissolva a gelatina completamente. Deixe a gelatina absorver a água fria e inchar em tamanho antes de adicionar a água quente. A gelatina amolecida deve então dissolver completamente depois que a água quente for misturada.
continue lendo ››

terça-feira, 24 de setembro de 2024

O que dizem budismo e hinduísmo sobre carma e reencarnação

 


  • Role,materia original:BBC News Mundo

O Buda dizia que certas coisas são impensáveis e impossíveis de serem resolvidas, mesmo que as pessoas tentem refletir muito sobre elas.

"Uma delas é tentar entender a lei do kamma ou karma, outra é especular sobre a origem do universo — se foi criado ou não", explica o monge budista Bhikkhu Nandisena à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

Kamma é o termo em páli, a língua relacionada ao sânscrito pela qual o Buda se expressava. Karma é o termo em sânscrito. O conceito faz parte da descoberta de Buda da "realidade última", uma realidade "inefável", diferente da realidade convencional.

O carma, e também a reencarnação, são conceitos complexos e que variam de acordo com diferentes tradições do budismo e do hinduísmo. A BBC News Mundo buscou explicá-los com a ajuda de dois pesquisadores — mesmo considerando as limitações nesta compreensão, segundo disse o próprio Buda.

No budismo

Siddhartha Gautama, o Buda, nasceu há cerca de 2.500 anos na realeza do que hoje é o Nepal.

Ele deixou uma vida de privilégios e luxo e entrou em um processo de profunda transformação espiritual que durou vários anos.

Estima-se que o budismo tenha hoje mais de 370 milhões de seguidores em todo o mundo, distribuídos em várias escolas — como a Theravada, à qual Nandisena pertence.

O monge explica que, de acordo com o Buda, existem três portas de ação: o corpo, a linguagem e a mente.

"Por meio da linguagem e do corpo, interagimos com os outros e podemos fazer boas ações ou causar danos e sofrimento a outros seres sencientes." 

A da mente é uma porta privada que leva ao corpo e à linguagem.

"É por isso que parte da ética no budismo tem a ver com as portas do corpo e da linguagem, que são as portas, digamos, públicas", diz o monge.

"Cada vez que realizamos uma ação através da porta do corpo, da linguagem ou da mente, geramos o que é chamado de kamma."

Segundo disse o Buda, bilhões de momentos de consciência surgem e cessam em um piscar de olhos.

"Imagine que numa ação verbal ou corporal, que pode durar um determinado período de tempo, estão envolvidos bilhões de momentos de consciência, que são o que, em nosso estado mental, nos impulsiona a realizá-la", diz o estudioso.

"Cada um desses momentos é o que poderíamos chamar de unidade kamma ou unidade kammica e, tecnicamente falando, isso é o kamma."

"Chamamos isso de volições e, de acordo com a descoberta do Buda, cada um desses estados volitivos que acompanham as ações gera uma potencialidade."

Ou seja, cada vez que dizemos, fazemos ou pensamos algo, há uma intenção — e geramos uma potencialidade.

Quando tomamos uma ação, por exemplo de generosidade, compaixão ou algo prejudicial a outros seres, uma potencialidade é produzida.

"Essa potencialidade permanece como tal até que as circunstâncias ou condições sejam satisfeitas para que um resultado seja produzido."

É por isso que os textos falam do kamma "assíncrono", porque o efeito da ação — que pode ser mental ou material — pode ser retardado.

Reconexão

Vela acesa em objeto em formato de flor de lótus

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,No budismo, a cada vez que dizemos, fazemos ou pensamos algo, geramos uma potencialidade

O monge ressalta que existem certas propriedades ou fenômenos materiais que estão na base das consciências que temos.

"Cada um de nós tem seis tipos diferentes de consciência: a consciência do olho, a do ouvido, do nariz, da língua, do tato e da mente. Todas elas dependem de propriedades materiais para surgir."

"De acordo com o budismo, no momento em que o espermatozoide e o óvulo se unem, há uma implantação externa, separada da matéria do pai e da mãe, que é o que chamamos de reconexão."

É nesse momento que surge "o suporte da consciência", de cuja evolução se desenvolvem as diferentes habilidades sensoriais.

Enquanto dava essas explicações, o monge me perguntou: "Você é igual a quando era criança?"

Ele mesmo respondeu: "Se me perguntam, eu digo: não sou o mesmo, mas também não sou outra pessoa. Se não fosse por aquela criança, eu não estaria aqui agora."

Ainda que as propriedades materiais da consciência eventualmente desapareçam, o que é acompanhado pela morte, há uma continuidade da consciência mental.

Nandisena diz que, embora alguns ramos do budismo usem o termo reencarnação, ele não segue esta escolha.

"Tecnicamente, usamos o termo reconexão, que é a tradução direta do páli. Talvez usar renascimento seja um pouco mais compreensível."

"Não usamos o termo reencarnação porque literalmente não há nada que aconteça de um momento para o outro. Há uma continuidade, mas não uma identidade. Não há nada da consciência anterior que seja transmitido como uma essência para a próxima consciência."

O monge resume que, "quando falamos sobre reconexão, estamos falando sobre o efeito de kamma".

Budas lado a lado
Legenda da foto,Representações de Budas em Mianmar

Mas muitas pessoas falam coloquialmente do carma ao se referir a uma consequência em suas vidas.

"Na verdade, carma é literalmente a ação; a relação entre essa ação e seu resultado é o que se chama de lei do kamma ou karma."

"Podemos entender a lei do kamma do ponto de vista da responsabilidade nas nossas ações, a parte ativa: ou seja, quando alguém faz algo errado, é responsável por causar dano a outro ser."

"Essa parte da lei do kamma em relação à causa não é tão difícil de entender; o que é difícil de entender é a relação entre causa e efeito."

"Quando algo acontece a alguém, como estabelecer uma ligação entre o efeito e a causa? Isso é impossível, mas mesmo assim, o Buda diz que, uma vez que somos donos das ações, também somos donos do que nos acontece."

"Essa é a parte mais difícil de aceitar da lei do kamma. De acordo com os ensinamentos de Buda, isso é chamado de o Entendimento Correto."

Fio de divisão gráfica

No hinduísmo

Doutor em filologia sânscrita pela Universidade Hindu Banaras (Índia), Óscar Pujol explica que, nas principais correntes da filosofia e do pensamento indiano antigo, "há um consenso absoluto sobre a existência da reencarnação e do carma".

"É engraçado como na Índia antiga isso era tão óbvio que quase não precisava de qualquer prova", explica o autor.

Hoje, estima-se que mais de 900 milhões de pessoas seguem o hinduísmo no mundo. Esta é a religião majoritária na Índia e no Nepal.

Centenas de pessoas em ponte e na margem do rio

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Peregrinação no rio Ganges, Índia

Diferente de muitas outras religiões, o hinduísmo não tem um único fundador, nenhuma escritura e tampouco um conjunto de ensinamentos comumente aceitos.

Trata-se de uma das religiões mais antigas do mundo. Seus elementos datam de muitos milhares de anos. Mas alguns estudiosos preferem referir-se ao hinduísmo como "um modo de vida" ou "uma família de religiões", em vez de uma única religião.

Uma lei básica

Pujol explica que o carma, na perspectiva hindu, é uma espécie de lei "própria do mundo material".

"Muitas pessoas já disseram: é como o conceito de gravidade na física."

"O carma é algo tão simples quanto a lei de causa e efeito: existe uma causa, ela produz um efeito que, por sua vez, se torna a causa de outro efeito."

E essa cadeia contínua de causas e efeitos é o que constitui "a existência do universo e do ser humano". Há nisto também uma dimensão moral, porque implica que toda ação humana "terá uma consequência".

"Portanto, uma ação positiva terá um resultado positivo e uma ação negativa terá um resultado negativo. É simples assim."

Pujol explica que o conceito de karma está relacionado à ideia de que o ser humano tem três corpos. Esta divisão também é fundamental para entender a reencarnação.

"Mas vou me concentrar apenas em dois deles: um (corpo) que todos nós vemos, o material; e um corpo sutil."

Seguindo a escola Vedanta, o corpo sutil tem 17 partes: os 5 sentidos da percepção; as 5 capacidades de ação (relacionadas ao movimento); os 5 ares vitais (aqueles que fazem a circulação e a respiração funcionarem); a mente e o intelecto.

O corpo sutil é "de certa forma uma espécie de alma", diz Pujol, embora ele esclareça que não é todo o corpo sutil que reencarna, mas apenas uma parte.

"Esta parte do corpo sutil, que reencarnou com a morte, é que se torna o que os atos bons ou maus determinarem."

"Quando a parte física morre, então os sentidos são retirados da mente, os ares vitais são retirados, até que apenas a parte do corpo sutil que vai reencarnar permaneça."

Livro aberto

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Livro hindu escrito em sânscrito

O intelecto, junto com o reservatório cármico, a citta, é o que migrará para outro corpo.

"A citta é como a parte em que ficam gravadas todas as ações que realizamos na vida. É como o disco rígido, tudo fica armazenado lá".

Nesse processo, também fica a parte da mente entendida como um processador de dados que nos permite conhecer e perceber o mundo.

"A impressão latente é o que se produz na mente quando temos uma percepção, e é a matéria-prima da memória. Por isso, nossa mente é composta por um número infinito de impressões latentes, que podem ser modificadas de acordo com a experiência."

Essas impressões "são o que, em última análise, determinam a reencarnação: se o karma é bom, elas têm carga positiva e, se for mau, têm carga negativa".

Já o "sentido do eu" não reencarna.

"É por isso que na nova vida não sabemos quem éramos antes. Perdemos nosso senso do antigo eu."

O autor esclarece que tanto o carma bom quanto o mau devem ser "abandonados", pois "estamos acorrentados ao bem e ao mal".

"Tanto as boas quanto as más ações nos prendem e, para nos libertarmos, temos que superar tanto o bom quanto o mau karma por meio do karma yoga", diz, referindo-se à prática hindu que envolve servir aos outros abnegadamente.

Reencarnações

Mulher de costas prestes a entrar em templo

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Templo Hoysaleswara, na Índia

Embora haja muitos debates, explica Pujol, "normalmente admite-se que pode haver reencarnação em qualquer tipo de ser, não necessariamente humano". E o ciclo é "infinito".

Por se tratar de uma lei tão inequívoca, "a grande obsessão da literatura sânscrita do pensamento antigo é justamente como se livrar do karma".

"É algo possível, mas muito difícil porque vivemos prisioneiros da ignorância. Superar essa ignorância essencial é muito complicado", explica.

"O karma é o destino. No sentido profundamente moral, ele diz que você domina o que acontecerá com você no futuro se agir de acordo agora."

Pujol pondera que, embora sob alguns pontos de vista o carma possa parecer "um pouco cruel", considerando todo o mal que há no mundo, ele tem um aspecto "profundamente ético e libertador".

"Somos donos do nosso destino", diz o estudioso do hinduísmo.

continue lendo ››