(Por Daniela Assunção)
A consciência humana, nossa maravilhosa capacidade de refletir, ponderar e escolher, é a nossa maior conquista evolutiva. A partir dela temos acesso a inúmeros benefícios como a criação de obras de arte fabulosas, as incríveis descobertas da ciência e a possibilidade de desvendar alguns mistérios do universo. Por outro lado, temos também a habilidade de operar no “piloto automático”, realizando comportamentos complexos sem qualquer pensamento consciente. E isso acontece depois de muita prática, como por exemplo, dirigir ou tocar violão. No início, é preciso muita atenção a cada etapa: saber ler as notas e conhecer os acordes musicais, pressionar as cordas correspondentes e com a outra mão controlar o ritmo e a firmeza do toque para reproduzir os sons que irão compor uma melodia.
Depois de aprendidos, esses movimentos tornam-se automáticos e fica muito mais fácil executar tal atividade. Mas os hábitos estão presentes também em ações bem mais simples como escovar os dentes ao acordar, repetir o trajeto para o trabalho diariamente ou sentar-se sempre no mesmo lugar à mesa. De todas as nossas ações diárias, praticamente metade delas (40%*) são hábitos – ou seja, são realizadas sem uma decisão prévia consciente. Isso acontece porque o cérebro está constantemente procurando maneiras de poupar energia.
Agir assim nos favorece por um lado, pois facilita nossa rotina diária. Pensar sobre um trajeto desconhecido, por exemplo, aumenta nossa atividade cerebral, e seria extremamente cansativo e desgastante estarmos atentos a tudo o tempo todo. O aspecto negativo dos hábitos é que nem sempre sabemos como eles foram criados e, além disso, uma vez instaurado um hábito é muito difícil modificá-lo.
Charles Duhigg, em seu bestseller “O Poder do Hábito”, destrinchou um hábito em três partes, e é aqui onde entendo que o coaching presta enorme contribuição. Um hábito pode ter sido criado a partir da observação, de um aprendizado específico ou simplesmente por tentativa e erro. A dificuldade em mudá-lo reside justamente no fato de que, para isso, vamos precisar de uma dose extra de energia e atenção a cada vez que “soar o alarme”. Ou seja, sempre que o gatilho que nos impulsiona a agir de determinada maneira for acionado, precisaremos estar atentos para introduzir um novo comportamento que irá gerar os benefícios que queremos.
Por exemplo, se parece impossível resistir à sobremesa após o almoço e queremos mudar isso, precisamos em primeiro lugar determinar qual é o real objetivo a ser alcançado: emagrecer? diminuir a ingestão de açúcar? economizar dinheiro? Por que seria importante mudar um comportamento para obter tal benefício? Depois disso, deve-se identificar qual é atualmente a recompensa que se está tendo ao agir dessa maneira. E se você é coach, essa é uma ótima oportunidade de identificar a real motivação de seu cliente por trás dessa atitude, pois só a partir disso é que será possível pesar, conscientemente, uma mudança de comportamento que garanta os atuais ganhos e elimine o que está sendo prejudicial.

Isso posto, temos que a dinâmica do hábito é a seguinte: ao captar a deixa ou o gatilho, o cérebro irá automaticamente “rodar o programinha” correspondente para gerar o resultado ao qual está acostumado e que anseia por ele. Iremos então, agir automaticamente de determinada maneira, por mais consciente que isso possa parecer. Mas para que aconteça uma mudança concreta e efetiva é necessário identificar uma série de aspectos que possam estar influenciando o atual comportamento – este é o ponto chave que deve ser trabalhado.
Conhecer essa estrutura de funcionamento do hábito nos dá o poder de atuar sobre ela. E se, além disso, pensarmos que é que pequenas coisas feitas de maneira consistente que são produzidos os grandes resultados, modificar nossos hábitos passa a ser fundamental para sermos bem sucedidos em qualquer área da vida.
Nos tempos atuais, onde o imediatismo é a palavra de ordem, pode soar trabalhoso dedicar tempo e energia para construir isso. Mas, ironicamente, grande parte dos nossos hábitos negativos diz respeito justamente ao que mais queremos: mais tempo e melhora na qualidade de vida!
Fica então a frase de Aristóteles: “Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito”; e a reflexão sobre a importância da auto-observação e o autoconhecimento, que são o início do processo de mudança dessa “chavinha”. Pode não ser muito fácil no início e pode dar trabalho sim, mas nenhum grande sonho foi concretizado a partir de atitudes medianas.
(*) “Um artigo publicado por um pesquisador da Duke University em 2006 descobriu que mais de 40% das ações que as pessoas realizavam todos os dias não eram decisões de fato, mas sim hábitos.” – Fonte: O Poder do Hábito, pág. 14
Nenhum comentário:
Postar um comentário