"Então, depois de duas, três
horas, Deus diz: 'Ok, ele está preparado, irei lhe jogar um osso'. E
Deus tem um senso de humor também, pois as vezes ele me dá algumas
merdas, não gosto de tudo o que faço".
Spinner.com: Você não começou tocando guitarra, ou começou?
Eddie Van Halen: "Eu nunca tive aulas de guitarra. Tive aulas de piano quando tinha 6 anos e vivia na Holanda. Quando viemos para a América era algo típico, exceto pelo fato de que eu era realmente bom nisso, assim como meu irmão. O Colégio na cidade de Long Beach tinha uma competição, era um recital de piano e eu venci três vezes seguidas. Mas então eu parei de tocar piano por uma razão: fui forçado a fazer isso [tocar piano] e eu não podia tocar o que eu queria, e isso não era divertido. Então me rebelei e comprei para mim um kit de bateria, e meu irmão, que tinha parado de tocar piano também, começou a tocar guitarra. Bem, Alex começou a tocar minha bateria e ele era bem melhor do que eu, então eu disse: 'Ok, foda-se, eu irei tocar sua guitarra'".
Spinner.com: Fale um pouco sobre suas técnicas de gravação e composição.
Eddie Van Halen: "Levo em torno de uma boa hora para esticar meus dedos, e eu sempre deixo a fita com o material rolando ao fundo, ou um cassette, algo do tipo. Depois de duas horas e meia, três horas, então entro em uma zona que estou reaprendendo a encontrar depois que parei de beber. Quando eu bebia chegava lá mais rápido. É um tipo de zona onde você não está pensando, onde você está apenas aberto para tudo, e eu acredito que quando você toca o bastante tem a possibilidade de executar com seus dedos qualquer coisa que Deus dê a você, e Deus não irá lhe dar nada se você não praticar ou tocar. Então, depois de duas, três horas, Deus diz: 'Ok, ele está preparado, irei lhe jogar um osso'. E Deus tem um senso de humor também, pois as vezes ele me dá algumas merdas, não gosto de tudo o que faço".
Spinner.com: Acho que todo compositor sempre atinge alguns momentos onde sabe que chegou em algo realmente especial. Quais são alguns destes momentos para você?
Eddie Van Halen: "É como 'Jump': esse foi nosso single nº 1, e acredite ou não, eu construí meu estúdio para colocar esta música em nosso disco pois todos odiaram-na, e a mesma coisa aconteceu com 'Right Now'. Alex e eu gravamos toda a coisa certos de que as pessoas não queriam fazer parte disto, então ela vence um Grammy e um MTV Award para o Vídeo do Ano, e de repente é como: 'Ei, sim, ótimo!' Mas fazer a pessoa cantar a maldita música foi como arrancar os dentes. Tem algumas coisas pelas quais eu luto pois eu escrevo todas as músicas, então eu acho que eu tenho um pouco a dizer sobre como as coisas devem ser feitas. Eu não sou um tirano, como a maioria das pessoas pensam. Eu apenas espero que outras pessoas, se você estiver nesta banda, trabalhem tão duro quanto eu trabalho".
CG- Já que estamos falando em solos, aquele que você compôs para "Beat It", do Michael Jackson, é considerado um dos momentos mais brilhantes da sua carreira. Você concorda com isso? Você poderia nos contar um pouco a respeito dessa gravação?
Eddie - Sim, eu também acho isso. Me lembro perfeitamente da liberdade com que Quincy Jones (produtor do referido disco) me deixou no estúdio, não estabelecendo nenhum tipo de regra ou orientação sobre o que eu deveria fazer naquela música. Acabei fazendo esse solo como que um teste e ele acabou valendo. Só que o técnico de som teve um trabalho imenso para editar a música em função dele, pois ali a coisa funcionava com uma base-guia ‘qualquer nota’ e o vocal do Michael. Todo o restante foi composto pacientemente nos meses seguintes.
CG- Como surgiu "Eruption"? ‘Guitarristicamente’ falando, ela é, na minha opinião, a mais revolucionária peça musical de todos os tempos.
Eddie: Gostei do termo ‘peça musical’ (risos)... Foi a primeira coisa que compus na afinação em G (Sol) aberto, mas apenas como um exercício de aquecimento. Uma noite, estávamos no estúdio gravando nosso primeiro disco quando comecei a tocá-la, de brincadeira. Nosso produtor, Ted Templeman, ficou tão surpreso com aquilo que exigiu que eu gravasse. O pior é que eu nem sabia tocar aquilo direito...
(incrédulo) Desculpe, mas eu acho que não entendi direito...
CG- Você disse que não sabia tocar "Eruption" de uma maneira correta?
Eddie: (com muita simplicidade) É. Se você e seus leitores prestarem atenção, há um pequenino erro no finalzinho dela. Se Ted tivesse me dado mais tempo, eu a teria gravado de uma maneira melhor. Aliás, nosso tempo de estúdio era tão curto que o primeiro disco foi gravado praticamente ‘ao vivo’ lá dentro. For Unlawful Carnal Knowledge demorou um ano para ser gravado, enquanto Balance foi escrito e gravado em quatro meses, principalmente pelo bom trabalho do produtor Bruce Fairbairn. Aliás, acho que o principal papel do bom produtor é criar um astral legal no estúdio.
CG -Como funcionava o seu processo de composição naquela época?
Eddie - A maioria das músicas dos três primeiros discos surgiram de idéias que eu tinha na hora de dormir. E das jams que eu fazia com meu irmão. Depois, levava a espinha dorsal dos arranjos para o restante do grupo. A melhor maneira de compor é aquela em que você se livra de todos os pré-conceitos com relação ao formato do que deve ser uma música. Eu nunca consegui sentar no estúdio e dizer para mim mesmo "agora vou compor uma canção!". Na única vez em que fiz isso, compus "Amsterdam" (do disco Balance), música da qual não sinto muito orgulho
RollingStone: Sua maior inovação foi o two-handed tapping – usar as duas mão para digitar notas simultaneamente. De onde você tirou essa idéia? [Nota: "two-hand tapping" é a técnica popularizada por Eddie de ferir as notas no braço da guitarra com ambas as mãos "martelando" as cordas com os dedos nos fretes].
Eddie Van Halen: "Eu estava assistindo Jimmy Page fazendo (canta um lick de guitarra), desse jeito, com uma mão, em 'Hearbreaker'. Eu pensei, 'eu posso tocar desse jeito, e você não saberia se eu estou usando esse dedo (aponta para a mão esquerda) ou esse aqui (mostra a mão direita). Mas se você mover a mão um pouco alguém dirá “você tem uma grande mão aí, amigo. Essa é uma grande abertura!”
RollingStone: Esse se tornou o som mais imitado no Hard Rock.
Eddie Van Halen: "Bom, não me culpe. Não é minha culpa. O tapping tem sido parte de meu modo de tocar desde mais ou menos 1972. No início, meu irmão me dizia para me virar no palco para que ninguém pudesse ver o que eu estava fazendo enquanto não lançássemos um álbum".
RollingStone: As pessoas pensavam que você era um guitarrista de Marte ou algo do tipo ?
Eddie Van Halen: "Eu me lembro há muito tempo atrás estávamos tocando e alguém nos disse 'A&M Records está aqui para ver vocês, rapazes'. Era Herb Alpert. Eu o encontrei depois e ele veio falar comigo. Ele disse: 'um dos maiores erros que eu já cometi foi deixar vocês passarem'. Eu respondi, 'eu me lembro exatamente o que você disse também. Você disse que o guitarrista era muito psicodélico e com muita energia sem controle'. Eu perguntei para ele o motivo, e ele respondeu: 'eu não entendia que diabos você estava fazendo porque era tão fora do comum'. Aquilo não fazia nenhum sentido para ele".
para mais um choque de
Rock n Roll...acordehendrix.blogspot.com
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