quarta-feira, 15 de junho de 2016

Masami Kurumada e uma promessa antiga de publicar a Saga de Zeus


Entrevista com Masami Kurumada


A entrevista a seguir data de janeiro de 2002
e foi publicada originalmente na revista
Henshin.
Apesar de antiga, ainda trata de muitos assuntos
interessantes, não apenas CdZ,
como também outros trabalhos de Kurumada
e de seus “concorrentes”.



Entrevista: Arnaldo Massato Oka
Texto: Marcelo Del Greco
Fotos (originais da revista): Cláudio Endo
A criação das aventuras de Seiya, o anime, os especiais, a Saga de Hades, a Saga dos Deuses e seus principais trabalhos. O criador de Cavaleiros do Zodíaco conta, pela primeira vez na história, absolutamente tudo sobre sua obra mais famosa e desvenda todos os seus mistérios. E mais: até de Dragon Ball, National Kid e Ultraman ele fala…
O dia 18 de janeiro de 2002 foi um dia especial para nós aqui na Henshin e mais ainda para os milhares de fãs de Cavaleiros do Zodíaco espalhados pelo Brasil. Nessa data, Arnaldo Massato Oka, o enviado especial da Henshin ao Japão, realizou uma entrevista histórica com ninguém mais, menos, que Masame Kurumada, o criador das aventuras de Seiya, Shiryu, Hioga, Shun e Ikki. O desenhista recebeu a reportagem da Hneshin em seu estúdio, o Kurumada Production, que fica na cidade de Yokohama, na Província de Kanagawa, que fica a uma hora da capital, Tóquio. O autor falou sobre seus trabalhos e, principalmente, nos contou absolutamente tudo sobre Cavaleiros do Zodíaco. Ele contou sobre a elaboração da obra, sua participação na versão animada e, sobretudo, contou direitinho por que a Saga de Hades nunca virou anime. E não foi só isso. A Saga dos Deuses, com que tantos fãs sonham, não é uma simples lenda. Kurumada revela, pela primeira vez, que ela está todinha em sua cabeça e que, um dia, ele pretende publicá-la. Ou seja, é uma matéria jamais vista no mundo inteiro. Tudo o que você sempre quis saber sobre os Cavaleiros do Zodíaco e seu criado está aqui.
Kurumada também mostrou ser uma pessoa bem diferente do que dizem por aí. Ele está longe de ser chato. Pelo contrario, foi super atencioso e simpático com nosso repórter e não hesitou em responder nenhum pergunta _ até mesmo as mais polemicas. Em seus estúdio, ele até mostrou algumas artes originais de seus trabalhos. Ao termino da entrevista, todo tímido, ele aceito posar para uma inesquecível sessão de fotos exclusivas para a Henshin. Não dá pra descrever o orgulho que nós da Henshin  estamos sentindo por publicar uma entrevista historia como essa e tão rica em informações. Alem disso, a sensação de dever cumprido é ótima. Afinal, promessa é divida. Lavamos quase um ano e meio negociando com o agente de Masami Kurumada para realizar esta entrevista, e , finalmente, cá está ela, especialmente para você, caro leitor da Henshin .
Henshin (H): O QUE O LEVOU A FAZER MANGÁS?
Kurumada (K): Bom, eu sempre gostei de mangás. Por exemplo, eu lia bastante os mangás de ninja do Mitsuteru Yokoyama [criadoro do Robô Gigante] e o Sampei Shirato [autor de A Adaga de Kamui]. Antigamente, existiam lojas que alugavam os mangás como se fossem as videolocadoras dos dias de hoje, e eu alugava ou lia mangás nessas lojas por 5 ou 10 ienes. Era a época do Gekigá [nome do estilo de mangá para publico adulto, com conteúdo dramático]. Takao Saitô [autor de Golgo 13] é um grande representante desse estilo. Quando se falava em mangás, era mais no estilo do Osamu Tezuka, que tinha um traço mais redondo, enquanto o gekigá era mais violento, tinha um traço mais sério. Eu tive influencia dos dois. O resultado disso foi Cavaleiros do Zodíaco (CdZ).
H: CDZ ESTARIA MAIS PARA ESTILO GEKIGÁ?
K: Eu não desenho pensando em seguir especificamente um estilo ou outro. A classificação não importa pra mim.
H: NA HORA DE CRIAR CDZ, VOCÊ FOI INFLUENCIADO POR ALGUM OUTRO MANGÁ OU AUTOR?
K: Hummm… Não tive influência de nada. Foi tudo original. É inteiramente um mangá “estilo Kurumada” (risos). Ler livros, assistir a filmes e conhecer novas pessoas me ajudam a ter idéias, mas não fui influenciado por nenhum outro mangá, desde que virei profissional. O meu estilo é inconfundível. Não é cópia de ninguém.
H:  VOCÊ GOSTA DE SÉRIES LIVE-ACTION E ANIMES?
K: Quando criança, eu assistia, mas depois os meus interesses mudaram.
H: O QUE VOCÊ ASSISTIA QUANDO ERA CRIANÇA?
K: São séries tão velhas que nem sei se vale a pena ser citadas. Por exemplo, o Gekkou Kamen ou o Nana-iro Kamen. São heróis mascarados dos primórdios das séries de heróis do Japão.
H: O NATIONAL KID CHEGOU A PASSAR NO BRASIL E FEZ GRANDE SUCESSO.
K: Sério? (risos) Eu adorava assisti-lo.
H: ULTRAMAN TAMBÉM É MUITO FAMOSO NO BRASIL.
K: Na época que passava Ultraman, eu já havia parado de assistir essas séries. Mas a anterior, Ultra Q, em que só apareciam os monstros, eu assistia no primário. O Ultraman foi depois que eu entrei no ginásio, e aí já não assistia mais.
H: QUAL FOI O SEU PRIMEIRO TITULO DE MANGÁ PUBLICADO?
K: O primeiro? Como irei explicar… era um mangá de “banchôs” [chefe de gangue]. Era uma historia de estudantes foras-da-lei, de delinqüentes. Foi um mangá nesse estilo. Você não encontra mais a venda. Agora o título… tenho até vergonha de citar… mas é Sukeban Arashi. É a história de uma garota brigona.
H: E QUAL FOI O SEU PRIMEIRO GRANDE SUCESSO?
K: Foi Ring ni Kakero (1978-1983). Agora estou fazendo o Ring ni Kakero 2, mas o original foi meu segundo trabalho regular. Eu virei profissional publicando Sukeban Arashi. Logo em seguida, esse título foi um estouro de vendas. Redeu 25 volumes encadernados.
H: VOCÊ TEM ALGUMA FORMULA PARA FAZER QUADRINHOS? UM MÉTODO PARA ELABORAR HISTORIAS?
K: Se houver um método para criar novas histórias, eu gostaria de saber (risos). Se existisse um know-how, uma fórmula pronta, acredito que ninguém sofreria. Quando assisto a filmes ou leio livros, essas coisas trazem idéias que fazem você exclamar: “Ual, que interessante!”. Eu acho que são essas idéias que vão surgindo que dão a dica para desenvolver seus trabalhos. Mas uma idéia só não dá uma história. Você precisa ir juntando e guardando as idéias mais legais dentro de sua “gaveta” na cabeça, e todo esse amontoado se transforma num trabalho.
H: QUER DIZER ENTÃO QUE NÃO BASTA TER INSPIRAÇÃO?
K: A inspiração também é superimportante. Mas é preciso juntar muita inspiração, senão seria impossível manter histórias tão longas. Portanto, é importante para o autor conseguir acumular o maior número possível de material dentro de sua “gaveta” mental.
H: DOS SEUS TRABALHOS, QUAL O SEU PREDILETO?
K: Acho que são todos. Afinal, sofri as dores do parto para trazer cada um deles ao mundo. Na Shonen Jump, onde foi publicado CdZ, você precisa fazer uma história completa a cada semana. É um verdadeiro trabalho de parto. Por isso, é difícil pra mim escolher um deles e dizer que este foi meu melhor trabalho.
H: COMO SURGIU A IDÉIA DE CRIAR OS CAVALEIROS? DE ONDE VEIO A IDÉIA DE USAR A MITOLOGIA GREGA E A ASTROLOGIA COMO BASE?

Foto original da Henshin
K: Todas as historias que faço são de luta. Essa essência não se altera nos mundos que crio. A única diferença está no tempero, no algo mais. Então, em vez dos personagens se transformarem como os super-heróis da TV, pensei neles vestindo armaduras. As armaduras precisavam ser bonitas, e aproveitar a Mitologia Grega e a Astrologia dava mais força a idéia. Portanto, peguei uma boa historia de luta, adicionei um elemento mais fashion – que são as armaduras – e como base para os desenhos delas, adotei as constelações. O legal disso é que também seria possível identificar o signo como a caracterização dos personagens e fui desenvolvendo as idéias dessa maneira.
H: VOCÊ JÁ GOSTAVA DE ASTROLOGIA ANTES DE FAZER CDZ?
K: Não chegava a gostar. Eu só olhava o horóscopo de vez em quando. Antes dos CdZ, eu não cheguei a estudar profundamente sobre Astrologia e Constelações. Isso só fiz depois de começar a desenhar os Cavaleiros. Com a Mitologia Grega, foi a mesma historia – embora eu já tivesse usado tema em Ring ni Kakero. Nele apareceram uns inimigos que se chamavam os 12 Deuses do Olimpo [volume 17 dos encadernados]. Mas nessa ocasião eu não fui muito a fundo com a idéia. Quando fui conhecendo mais sobre as lendas e as histórias da Mitologia Grega, eu senti que aquilo era uma grande fonte de idéias. Me baseando nisso, foi possível criar um monte de personagens.
H: QUANTO TEMPO DUROU A SÉRIE?
K: Acho que foram uns 5 ano. Se não me engano, CdZ começou a ser publicado pouco depois de Dragon Ball, Mas Dragon Ball ficou comprido demais (risos).
H: DRAGON BALL Z ESTÁ PASSANDO NO BRASIL E FAZENDO GRANDE SUCESSO, JÁ CAVALEIROS FOI EXIBIDO HÁ ALGUNS ANOS, MAS AINDA TEM FÃS FERVOROSOS.

Foto original da Henshin
K: Escutei falar na Editora Shueisha que lá no México fizeram apresentação dos Cavaleiros com atores reais numa peça musical. Aqui no Japão também fizeram um musica estrelado pelo SMAP.
H: VOCÊ FICOU TOTALMENTE SATISFEITO COM O RESULTADO DE SUA CRIAÇÃO?
K: Falando sinceramente, depois de terminar o trabalho, não é satisfação que eu sinto: é um grande abatimento. Uma semana após a outra, precisava carregar mais e mais idéias para surpreender o leitor e, quando terminava, eu ficava totalmente abatido. A história que estou publicando agora é a mesma coisa. Mesmo retomando o mangá depois de 20 anos, acho que não existe uma obra que fique perfeitamente encerrada. Cdz, pó exemplo. Tenho em minha cabeça a Saga dos Deuses, onde Zeus irá aparecer, mas ainda não trabalhei em cima.
H: QUANDO IRÁ COMEÇAR A SAGA?
K: Acho que morrerei quando fizer isso (risos). É que acho que vou precisar de muito trabalho mental e físico para encarar esse desafio. Precisarei criar personagens carismáticos para cada Deus do Olimpo. Tente só imaginar as armaduras que cada um deles poderá usar. Existe material para fazer coisas lindas. Fico imaginando o trabalho que dará para pensar em todos os detalhes.
H: QUANTO TEMPO SE GASTA PARA DESENHAR CADA ARMADURA?

Foto e capa originais da Henshin
K: Como a revista sai semanalmente, é preciso fazer tudo nesse intervalo de tempo. Portanto, o prazo para fazer tudo é de uma semana, no máximo.
H: MAS NÃO EXISTIU NENHUMA ARMADURA QUE VOCÊ GASTOU MAIS TEMPO PARA DESENHAR?
K: Eu não economizo idéias. O que eu penso eu boto tudo no papel e começo tudo do zero na semana seguinte. Há bastante informação concentrada naquelas páginas.
H: AQUELES DETALHES DA MONTAGEM DA ARMADURA SÃO BEM LEGAIS. AQUILO TAMBÉM FOI FEITO EM UMA SEMANA?
K: Exatamente. Claro que, na hora de transformar o mangá em anime ou nos brinquedos, o pessoal foi obrigado a mudar alguns detalhes porque surgem algumas inconsistências. Mas nunca ninguém tinha pensado num objeto com o formato, por exemplo, do signo de Sagitário, em que você pode desmontar as peças para vesti-las como armadura. Foram essas idéias que tornaram CdZ original.
H: EXISTE UMA HISTORIA DE QUE CAVALEIROS TEVE DOIS FINAIS. UM, PUBLICADO NA SHONEN JUMP, MOSTRANDO TODOS OS CAVALEIROS DE BRONZE A ATHENA SE SACRIFICANDO PARA VENCER HADES, E OUTRO, NA ENCADERNAÇAO DO MANGÁ, EM QUE APENAS SEYA MORRIA.
K: Não foi bem assim. O ultimo episódio de CdZ foi publicado numa outra revista da Shueisha, a V Jump, e não na Shonen Jump. Mas os volumes encadernados juntaram tudo na mesma coleção, e isto deve ter causado essa confusão.
H: QUAL É O SEU PERSONAGEM PREDILETO DE CAVALEIROS?
K: São os cinco Cavaleiros de Bronze: Seya, Hyoga, Shiryu, Ikki e Shun.
H: E COMO FOI O SUCESSO DE CDZ NO JAPÃO?
K: O trabalho de fazer mangás obriga a gente a ficar preso num espaço pequeno, como neste estúdio, e passar os dias pensando e desenhando. Por isso não conseguimos sentir o sucesso que nosso trabalho faz. Temos apenas alguns indícios através das cartas dos leitores. Foi só quando fui a pré-estréia no cinema que pude ver a reação do publico de perto. Quando Ikki ou o Seya apareciam na tela, o publico vibrava como se estivesse vendo cantores de sucesso. Aquilo foi surpreendente para mim porque nunca havia visto pessoas manifestando tanto entusiasmo por mangás e animes. Saber que fiz um trabalho tão querido no Japão e no mundo me deixa imensamente feliz e orgulhoso.
H: ENTÃO VOCÊ NEM IMAGINAVA QUE PUDESSE CONQUISTAR FÃS EM TODO O MUNDO?
K: Nem um pouco. Acho que a coisa começou na França. Depois veio o sucesso na venda dos brinquedos . Na América do Sul, creio que teve um problema com produtos piratas. Mas, como o passar do tempo, isso foi corrigido. Há um ano, encontrei com um autor de mangá da China, e ele comentou comigo que posso ter perdido bilhões de ienes em direitos lá. Parece que, quando o mangá japonês foi introduzido na China, e isso foi 10 anos atrás, os títulos foram Dragon Ball e CdZ, mas ambos piratas. Pense só no tamanho da população chinesa (risos). Mas nada disso veio para mim.
H: O QUE VOCÊ ACHOU DO TÍTULO MUNDIAL DE SUA OBRA: ‘CAVALEIROS DO ZODÍACO’ (ZODIAC KNIGHTS)?
K: Não vejo problemas. Acho que ‘Cavaleiros do Zodíaco’ é mais fácil de compreender para o público de fora. Saint Seya, o título original, é muito difícil de entender. No início, até os leitores japoneses tinham dificuldade de ler o título corretamente.
H: MAS ‘CAVALEIROS DO ZODÍACO’ NÃO DÁ A IMPRESSÃO DE QUE OS VERDADEIROS HERÓIS SEJAM OS CAVALEIROS DE OURO?
K: Você acha? Mas achei legal não terem mudado o nome dos personagens. Seya continuou sendo Seya. Só em alguns países mudaram os nomes dos personagens.
H: VOCÊ SE ENVOLVEU NA PRODUÇÃO DO ANIME?
K: Sim, claro. Por exemplo, no primeiro movie, pensei do desenho e no nome dos inimigos. Os golpes já não me lembro se foram idéia minha. Nos filmes seguintes, eu deixei por conta da equipe de produção. Mas ajudei um pouco no roteiro e nos desenhos de alguns personagens.
H: NO ANIME, A HISTORIA FOI LEVEMENTE ALTERADA POR CONTA DE NOVOS PERSONAGENS, COMO O CASO DE HYOGA, QUE ACABOU FICANDO COM DOIS MESTRES, O CAVALEIRO DE CRISTAL E O KAMUS DE AQUÁRIO. VOCÊ GOSTOU DO MODO COMO A HISTÓRIA FICOU?
K: É que o anime sempre acaba alcançando a cronologia do mangá. Nessas horas, a equipe de produção da animação precisa criar suas próprias historias para preencher o buraco e esperar até o mangá ter volumes suficientes para poder retomar a linha. Daí acontecem esses casos. Mais tarde, aparece o Kamus de Aquário e… “Opa! O que está acontecendo aqui?” (risos)
H: MAS VOCÊ NÃO SE ENVOLVEU NA CRIAÇÃO DO CAVALEIRO DE CRISTAL?
K: Não. Aquele foi um personagem que nada teve a ver comigo.
H: NO ANIME, AS ARMADURAS DA SAGA DO SANTUÁRIO FICARAM DIFERENTES DO MANGÁ. O QUE ACHOU DISSO?
K: Por causa da natureza do anime, que exige uma quantidade muito maior de desenhos, os detalhes são sacrificados. Portanto, eu deixo a equipe de produção do anime fazer do jeito que eles acharem conveniente, porque são trabalhos diferentes. Não me importo com isso. Prefiro assistir ao anime de uma forma mais ampla. Por exemplo, a música, o traço do desenho. Tem episódios bem desenhados e outros não – acredito que todos percebam isso. Por isso, para mim o que importa no anime é o desenho e a música. A música para mim é fundamental. Ela pode emocionar as pessoas, independentemente da imagem.
H: A HENSHIN JÁ ENTREVISTOU SEIJI YOKOYAMA, O COMPOSITOR DA TRILHA DE CAVALEIROS, UMA VEZ. VOCÊ GOSTOU DO TRABALHO DELE?

Atelier de Kurumada
K: É mais fácil visualizar a produção do CD Drama. Exige menos esforços. O anime precisa do esforço conjunto de um monte de empresas, como a rede de TV, a produtora, os patrocinadores, a editora e o autor. Ele só é viabilizado quando todos se reúnem e dizem juntos: “Vamos fazer!”. Por exemplo, de repente, alguém diz para fazer a Saga de Hades. Daí o outro quer a Saga dos Deuses em conjunto, mas nesse caso, não há previsão da minha parte para começá-la. É complicado.
H: E QUANTO TEMPO O SFÃS PRECISARÃO ESPERAR PRAR VER A SAGA DOS DEUSES?
K: Também não tenho previsão. Acho que quero continuar até o dia em que os leitores me peçam para parar. Na pior das hipóteses, cortam a série na metade. Acredito que, no mundo do entretenimento, são raros os trabalhos em que o autor consegue desenvolver tudo o que imagina. Nas revistas comerciais, essa é a lei. Por mais que o escritor  queira desenvolver bem uma historia, se os leitores não a quiserem, ela é cortada. Num meio desses, aquele autor que consegue cativar os leitores e manter o sucesso estará conseguindo um grande feito.
H: OUTRA OBRA FAMOSA DE SUA AUTORIA É B’T X. PODERIA NOS FALAR UM POUCO SOBRE ELA?
K: Acho que foi cedo demais para trabalhar nela.
H: HÁ QUEM DIGA QUE B’T x SEJA UMA CÓPIA DOS CDZ…
K: Eu discordo. Mas talvez eu devesse ter dado um tempo maior entre os dois trabalhos. Agora… foi a primeira vez que escutei essa opinião. Já disseram bastante que sou muito repetitivo (risos), mas  nunca me disseram especificamente que B’t X fosse uma cópia de Cavaleiros. No Brasil, publicaram o mangá B’t X? Precisam ler o mangá. É lá que está a essência do trabalho.
H: CDZ FOI LANÇADO QUASE EM PARALELO COM DRAGON BALL, DE AKIRA TORYAMA, E NA MESMA REVISTA, A SHONEN JUMP. VOCÊS SE CONHECEM BEM?
K: Não tenho muito contato com ele. Ele mora longe de Tóquio. Já bati um papo com ele em alguns eventos da revista, mas não somos amigos íntimos.
H: EXISTE ALGUMA RIVALIDADE ENTRE AUTORES FAMOSOS QUE TRBALHAM NUMA MESMA REVISTA? POR EXEMPLO, ENTRE VOCÊ E TORYAMA?
K: Imagine. Ele é um gênio, e eu sou esforçado. Se ele for um ovo de ouro, eu sou um ovo de ferro. Preciso ficar sempre polindo a superfície, senão enferrujo e perco o brilho. Mas, com esforço e dedicação, posso brilhar tanto quanto ele.
H: PARA FINALIZAR, VOCÊ PODERIA MANDAR UMA MENSAGEM PARA OS SEUS FÃS NO BRASIL?
K: Dizem que o Brasil é o país mais distante do Japão na face da Terra. Saber que meus trabalhos são conhecidos lá do outro lado do planeta e, além disso, recebendo o apoio dos fãs, me deixa muito feliz. Espero que continuem gostando dos meus trabalhos.

Publicado originalmente na revista Henshin, Ano 2, nº 31, pág. 14-21. Editora JBC.

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