domingo, 22 de abril de 2018

filmes e reviews - Capitu

Dicas do capitão: Capitu mini serie 2008



Capitu, microssérie de cinco capítulos exibida pela Rede Globo em 2008, é a segunda – e, infelizmente, a última – realização do diretor Luiz Fernando Carvalho para o Projeto Quadrante.
Idealizado por Carvalho, o Projeto Quadrante pretendia levar adaptações de clássicos da literatura brasileira ao público da televisão. Cada obra corresponderia a um dos quatro cantos do país, e seria produzida por profissionais locais, funcionando também como uma busca por novos talentos fora do eixo Rio-São Paulo. No entanto, devido aos baixíssimos índices de audiência de Capitu e A Pedra do Reino (microssérie antecessora baseada na obra de Ariano Suassuna), a emissora suspendeu o projeto por tempo indeterminado.



Luiz Fernando Carvalho, conhecido pela aclamada minissérie Hoje é dia de Maria (2005), ousou então adaptar uma das obras fundamentais da literatura brasileira no centenário de morte de seu autor, Machado de Assis.
Escrito em 1899, o romance Dom Casmurro é considerado por muitos a obra-prima de Machado. O livro já foi analisado pelo viés sociológico, psicológico, filosófico, teológico, jurídico e até mesmo feminista. No âmbito literário, muito se discute acerca de sua estética, pois, apesar de ser considerado o expoente maior do Realismo no Brasil, o autor rejeitava esse rótulo. Machado chegou até mesmo a dizer que “a realidade era boa, mas o realismo é que não servia para nada.”


Essa miscelânea estética que permeia Dom Casmurro – romântico, realista e modernista ao mesmo tempo – parece ter guiado a adaptação de Luiz Fernando Carvalho. “Na minha opinião, Dom Casmurro é montado assim, como um conjunto de colagens, de tempos e de avessos”, define o diretor.
A ideia original era não fazer uma simples reconstituição de época, mas uma releitura que lembrasse o caráter universal e atemporal da história, e que, por outro lado, conectasse a trama passada no Brasil do Segundo Império ao Brasil do século XXI.
Ao desafio de ser universal e brasileira, fiel à época e atual, somou-se a dificuldade orçamentária da produção. Assim, a microssérie teve de ser realizada em uma única locação: o Automóvel Clube do Brasil, antigo palácio em ruínas no centro do Rio de Janeiro. Pois foi justamente essa limitação que permitiu que Capitu tivesse como conceito fundamental a máxima de Machado de Assis – na voz do protagonista Dom Casmurro – “A vida é uma ópera”. A partir disto, Carvalho repensou o livro dentro de um formato operístico, metalinguístico e não-realista.


Portanto, para ser fiel ao autor e à sua obra, a microssérie de Luiz Fernando Carvalho inventou – e muito. Todavia, permaneceram a divisão em capítulos, o texto original e a narração em primeira pessoa do personagem central do livro.
Seguindo o conceito teatral, a ação se dá quase sempre na presença de grandes cortinas vermelhas. Na encenação prevalece não só a ópera – os atores interrompem constantemente sua ação para “pausas dramáticas” seguidas de uma orquestra, e os canhões de luz de teatro interagem com as cenas – mas há também forte influência da estética do expressionismo alemão, sobretudo no uso das sombras, de enquadramentos tortuosos e na caracterização do protagonista. Outros recursos amplamente usados para compor a história são a vídeo-projeção e a montagem com arquivos de um rico acervo imagético do Brasil de 1900.



O cenário e a indumentária são atemporais, criados em sua maior parte pelo artista plástico Raimundo Rodriguez, a partir de elementos como papel alumínio, papel de jornal, canos de ferro, desenhos a giz de lousa, artesanato em madeira, etc.
Há a constante intervenção de elementos atuais na história, desde a trilha sonora (composta por rock clássico e nacional, folk, música erudita, ópera, marchinhas brasileiras e hip hop), até as poucas cenas externas gravadas no Rio de Janeiro atual, passando por fones de ouvido da Apple, telefone celular, e salas de cinema que ainda não existiam.


Todas estas opções da adaptação parecem estar voltadas para uma das questões centrais na obra machadiana: o embate entre verdade e imaginação, entre realidade e verossimilhança. Afinal, foram as dúvidas insolúveis do romance que o tornaram tão famoso. O jogo de Machado de Assis com o leitor permanece então no jogo de Capitu com o espectador. Parece impossível definir o que é verdade e mentira na microssérie.
Os recursos épicos de Capitu não estão apenas nas incoerências históricas, na exposição da contrarregragem e do aparato cenotécnico, ou na presença de um narrador que, a todo momento, dirige-se ao público. O principal elemento épico – e o mais desconcertante – está na interpretação dos atores, orientados pelos preparadores de elenco em técnicas de Clown e de máscaras da comédia dell’arte.


A interpretação brechtiana que comenta e critica o personagem que se está representando dialoga profundamente com a ironia de Machado, que criava personagens tipificados para representar e criticar a elite carioca do século XIX.
Todavia, enquanto tudo em Capitu parece unir-se para quebrar a ilusão – ou a quarta parede – e despertar a observação acurada e crítica de Machado no espectador num empenho claramente épico, os mesmos recursos também colaboram entre si para criar uma atmosfera onírica e bela, que encanta, entorpece, e comove profundamente o público na chave dramática, que Brecht rejeitava.




Assim, concretiza-se na adaptação de Luiz Fernando Carvalho aquilo que há de mais interessante na obra de Machado e na narração de Dom Casmurro: a dualidade entre o dramático e o épico.  Essa antítese, afinal, já estava exposta em outra máxima do autor, que definia a vida como “uma ópera bufa com alguns entremeios de música séria”. São esses “entremeios de música séria” que emocionam tanto o espectador de Capitu.
É impossível não se comover com os personagens de Capitu, sobretudo com o drama de Bentinho na velhice. Simultaneamente, é constante a sensação de ser enganado pelos mesmos. Os personagens machadianos, os atores, a arte e a direção da microssérie encarnam com perfeição aquilo que Fernando Pessoa definiu em poema: O Poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente. É desta forma que os limites entre verdade e fingimento surgem tão diluídos na microssérie.
Luiz Fernando Carvalho ressalta que, além dessa dicotomia, o que buscou imprimir à obra foi melancolia.
“Pouco a pouco, veremos que o romance não trata apenas do jogo entre a verossimilhança e a verdade, mas também de um conjunto de retratos repletos de sabedoria melancólica – ligeiramente cansada, ligeiramente amarga, ligeiramente divertida. Fui atrás das coordenadas mais latentes, que têm muito a ver com a questão da passagem do tempo, da consciência da finitude das coisas e do trágico também. Busquei a tragicomédia de uma dúvida, do que ela provoca em termos de imaginação.”
Se à primeira vista a trama parece girar em torno do possível adultério de Capitu e do ciúme obsessivo de Bentinho, o tema central revela-se pouco a pouco ao espectador. O tempo, a finitude e efemeridade das relações são o foco do narrador-personagem desde o início do romance, quando revela ao leitor o seu intuito ao escrevê-lo:
“Digamos os motivos que me põem a pena à mão: meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência. Pois senhor, não consegui recompor o que foi, nem o que fui. Se só me faltassem os outros, vá lá, um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde. Mas falta eu mesmo. E esta lacuna é tudo.”


Por Giovanna Siqueira
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terça-feira, 17 de abril de 2018

Lucy Alves que morena arretada sô

O maior tesouro a ser lançado no programa da Globo "The Voice", mas quem de fato é essa morena cabocla que encanta multidões?


Muito antes de ser finalista do “The Voice” e interpretar a Luzia de “Velho Chico”, a paraibana Lucy Alves já tinha muita estrada como cantora e instrumentista. Sua carreira começou ainda criança, quando aprendeu violino e participou como solista da Orquestra Sinfônica da Paraíba e da Orquestra de Câmara de João Pessoa. Mas foi com a sanfona, seu instrumento preferido, que ela, aos 16 anos, começou a tomar parte no grupo Clã Brasil, formado por seus pais, três irmãs e mais dois filhos de um amigo da família. Além de ter feito inúmeros shows, Lucy gravou com o grupo oito álbuns e dois DVDs. Com o último disco, “No Forró do Seu Rosil”, o Clã Brasil foi indicado, em 2016, ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras.
A formação musical e cultural de influências bem nordestinas deu cor e verdade a seu personagem na novela da Globo, primeiro trabalho como atriz, pelo qual foi indicada como Melhor Atriz pelo Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e ganhou como Melhor Atriz Revelação, no Prêmio Melhores do Ano, do Faustão, e como Revelação Feminina, no Prêmio Extra de Televisão.
Lucy está testando, agora, a mistura de música eletrônica com forró em “Caçadora”, música recém-lançada, que revela um lado mais sensual da artista, numa letra que fala de mulheres livres e determinadas. Em vez de um choque de estilos, Lucy abre possibilidades, com autenticidade e energia.



1
Lucy, você estudou violino clássico e chegou a tocar nas orquestras sinfônicas da Paraíba e do Recife. Nunca pensou em seguir a carreira de violinista?
“Sempre gostei do violino, mas não sentia a mesma eletricidade que senti ao tocar baixo, bandolim ou sanfona. A experiência na orquestra foi muito importante para o meu olhar para a música de câmara, para adquirir mais respeito pelos naipes, para ter disciplina e ter respeito pela música. Tive uma maestrina em minha vida que considero minha mãe musical, a argentina Norma Romano. Dona Norma, além de conduzir o trabalho com as orquestras na Paraíba, sempre me incentivou a me aventurar por outros instrumentos, como charango e harpa. Até harpa toquei na orquestra! (rs) Ela é um exemplo de mulher. Muito inteligente, musical e de muito pulso e força. Eu levei isso pra minha vida de instrumentista. Dona Norma tinha uma vitalidade incrível! O violino é mais uma cor de minha aquarela”.
2
Com sua família, você participou do Clã Brasil, grupo ligado à música do Nordeste. A cultura pop não fez parte da sua juventude? Teve alguma influência de artista estrangeiro?
“A música sempre esteve presente na minha casa, não apenas a de raiz nordestina, mas a música brasileira em geral, mesmo. Choro, bolero, samba, MPB e também o forró com influências de Luis Gonzaga, Jackson, Dominguinhos, Jacó do Bandolim. Essas são as minhas maiores influências, mas eu também gosto de música pop, de dançar ouvindo Beyoncé, por exemplo.”
3
Os compromissos com a música não atrapalharam sua infância e adolescência?
“Minha infância e adolescência foram permeadas pela música, sim. Tive contato com brinquedos, brincadeiras, família, e foi muito bom ter tudo isso ao mesmo tempo. Sempre junto e misturado. Pelo contrário, a música sempre me levava para tribos diferentes, me apresentava a novos amigos pelo caminho…ela só agrega. Eu era bem traquininha! Uma curumim que vivia correndo, subindo em árvore, e no primário mexia com todos os colegas! Ao mesmo tempo, convivi muito com pessoas mais velhas, porque já tocava também e gostava de frequentar as rodas de choro da cidade, acompanhada de meu pai. Os amigos de meu pai também tocavam e eu gostava de acompanhar. Considero minha infância e adolescência bem normais”.
4
Como surgiu essa oportunidade de estrear como atriz em “Velho Chico”? Guardou alguma lembrança do seu convívio com o Domingos Montagner?
“Tinha sido chamada pra um teste pelo Luis Fernando Carvalho para uma minissérie, mas na ocasião não fui escalada. Depois de um tempo, ele me pediu que fizesse um teste para ‘Velho Chico’ e aí deu tudo certo e eu ganhei esse presente incrível que foi a Luzia. Do Domingos a gente só guarda lembranças boas. Uma pessoa de uma delicadeza, um grande ator que sempre estava disposto a ouvir o que os outros tinham a dizer, dar dicas, incentivar, sobretudo os que estavam começando, como eu. Domingos foi um parceiro de cena muito generoso, um artista incrível. Não tenho dúvidas de que o crescimento da Luzia só aconteceu em função dessa nossa parceria. Para mim foi uma experiência maravilhosa, amei descobrir que consigo me expressar artisticamente de uma nova forma, despertar ideias e sentimentos nas pessoas. Estou colhendo os frutos até hoje deste trabalho inesquecível”.
5
Sua nova música de trabalho, “Caçadora”, fala de uma mulher bem livre. É intenção sua mostrar uma imagem mais sexy?
“O que pegou de cara nessa música, assim que ouvi, foi o ritmo. Ela mistura música latina com ritmos da gente e tem aquele toque de eletrônica que há tempos eu queria experimentar na minha música. Tenho 31 anos, gosto de dançar, ouço muitos tipo de música e queria mostrar esse outro lado, que talvez o público ainda não conheça. Ampliar as minhas possibilidades, me jogar mesmo. Acho que toda a minha bagagem na música me dá segurança e aval pra experimentar novos caminhos, mas nada me impede se amanhã gravar uma valsa, um forró, uma balada…”
6
Está conseguindo namorar tanto quanto queria?
“Essa vida é corrida, mas cheia de gente e surpresas. Meu compromisso mais sério e duradouro tem sido com minha sanfona. De qualquer forma, sempre tem um sorriso, um chameguinho para acalentar o coração no meio dessa loucura toda. Agora veio uma ‘Caçadora’ pra ajudar também.”
7
Você chegou a participar da banda do Alceu Valença. Tem algum episódio divertido para contar sobre essa época?
“Alceu é incrível! Ele tem tanta energia, verdade e loucura nata, coisas de gênio mesmo. Era tudo muito divertido. Adoro a autenticidade e a forma como ele se expressa. Agora não consigo lembrar de nenhum episódio específico, mas dei muita risada com ele e sua banda”.
8
Já sofreu algum tipo de assédio parecido com o caso José Mayer?
“Nunca”.
9
Qual será seu próximo trabalho como atriz?
 “Estou estudando algumas propostas para o cinema e para a TV, mas no momento quero voltar a cantar muito, mostrar meu novo trabalho. Pretendo continuar atuando, já que gostei muito dessa experiência, mas sem deixar a música de lado”.
 
fiquem com essa apresentação com gostinho do nordeste brasileiro...
 
 
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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Entusiasmo dos chineses pelo macarrão

 

De acordo com registros históricos, o macarrão surgiu na dinastia Han do Leste (25-220). Só que àquela altura o seu nome chinês era bing. Durante a dinastia do Sul e do Norte (420-589) e a dinastia Tang (618-907), as pessoas começaram a usar ferramentas, tais como placa de desbastamento, faca e rolo, para estender e cortar as massas, o que diversificou os tipos de macarrão. No mesmo período, surgiu o costume de comer macarrão no dia do aniversário, por acreditar que a forma fina e comprida da comida é um símbolo da longa vida. Por isso, o macarrão que os chineses comem no dia de aniversário se chama "macarrão da longevidade". Em chinês, é chamado de Chang Shou Mian. Entre eles, Changshou significa a longa vida, e o Mian é macarrão. Em algumas regiões chinesas, as pessoas ainda mantêm a tradição de comer ovo cozido na manhã do aniversário. Além disso, com aumento de intercâmbios entre China e o exterior nas últimas três décadas, os jovens chineses aceitaram gradualmente as culturas ocidentais, e preferem celebrar o aniversário com bolo.
Os documentos da dinastia Song (960-1279) registram mais de 30 tipos de macarrão. Na dinastia Yuan (1368-1644), surgiu o macarrão puxado à mão. Na Antiguidade, por causa da precariedade das condições de higiene, o macarrão, cozido na água fervente, era relativamente limpo e saudável, o que contribuiu para que se tornasse um dos alimentos mais comuns.


O macarrão de arroz é um prato local mais famoso e popular em Guilin, da Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi, no sudoeste da China. A população local come-o como pequeno-almoço, almoço ou jantar. O macarrão de arroz de Guilin pode provavelmente ser encontrado dentro de 100 metros de qualquer lugar da cidade. É feito com amido de farinha de arroz, e vem em duas formas, redonda e plana. Macarrões de arroz, molho, amendoins fritos ou soja frita, cebolinha picada, fatias finas de diferentes tipos de carne são adicionados no balcão de comida pelo chef para fazer várias versões deste prato saboroso. Seja qual for a versão do macarrão de arroz, o molho é o creme do macarrão.
O macarrão com pasta de soja é típico de Beijing. A massa é envolvida num molho grosso de carne de porco moída, à base de pasta de soja adocicada ou de soja amarela, com pepino em tiras, cenoura, broto de feijão e outros ingredientes. O conceito é parecido com o do molho à bolonhesa, mas fica mais leve, refrescante e aromático. Os rumores dão conta de que teria surgido na dinastia Qing, no final do século 19.


O macarrão biang biang é uma invenção da província de Shaanxi. A massa larga e espessa é envolvida em muitas pimentas, ideal para enfrentar o frio do inverno local. Mas o que mais chama atenção é o ideograma do seu nome. Tem 57 traços na forma tradicional e 42 na simplificada. Até os computadores desistiram de registrá-lo. O único jeito de escrevê-lo é a mão. Para conseguir lembrá-lo, os chineses utilizam versos com rimas que dão uma ajuda à memória.
O macarrão com molho de pimenta de Sichuan, também conhecido como Dan Dan Mian, é um petisco típico da região. Como toda criação culinária da província de Sichuan, no centro-oeste do país, leva o instigante sabor do má là, que une pimenta a uma sensação de dormência na boca. Simples e barato, ganhou seu nome por ser vendido em bastões longos, chamados de dàndàn, e conduzido nos ombros por vendedores a pé. Com pouco caldo, leva carne moída e um molho à base de pimenta e molho de soja.
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